A teoria dos sistemas é bem conhecida na Administração. Seja nos livros didáticos ou em projetos de consultoria, ela se incorporou ao campo de tal modo que hoje quase não a notamos. Surgida nos anos 1940 na área da biologia, é uma das teorias mais bem-sucedidas em sua transposição para outras áreas, como a psicologia, sociologia, economia, ciência política, arquitetura, planejamento urbano, comunicação e engenharia.
Na Administração, ela começou a ser adotada ao final dos anos 1950. Três trabalhos representativos é The Management of Innovation, de Burns e Stalker, publicado em 1961, The Social Psychology of Organizations, de Katz e Kahn, publicado em 1966, e Organizations in Action, de James D. Thompson, publicado em 1967. Nas décadas seguintes, ela influenciou o surgimento de outras teorias, como a teoria da contingência, a escolha estratégica e, nos anos 1990, as organizações em aprendizagem.
Aparentemente, a teoria teria esgotado suas possibilidades. O que pode ter contribuído para seu arrefecimento é sua identificação como um desdobramento da abordagem estrutural-funcionalista das ciências sociais. Mas, talvez, a teoria não se limite a isso. O próprio Bertalanffy, considerado o fundador da teoria, apresenta em seu livro General System Theory (1968) a preocupação que a tecnoburocracia aprisione o indivíduo, e afirma que a teoria não desconsidera as questões humanísticas se suas versões não se limitarem a visões restritas e fragmentadas.
Uma contribuição interessante que ampliou a teoria dos sistemas para compreender o ser humano nesse aporte humanístico surgiu de dois professores espanhóis: Juan Antonio Pérez Lópes (1935-1996), professor de teoria das organizações do IESE Universidade de Navarra, e Leonardo Polo (1926-2013), filósofo da mesma universidade.
A teoria original contempla duas possibilidades: sistemas fechados e abertos. Os ‘sistemas fechados’ possuem apenas uma única situação de equilíbrio, sendo capazes de responder ao estímulo para recuperar o equilíbrio. Os ‘sistemas abertos’ são capazes de aprender, pois dotados de um mecanismo de feedback de interação com o meio ambiente/externo, possibilitam uma aprendizagem ascendente. Por isso, possuem mais de uma situação de equilíbrio, todas corretas, porém algumas situações são melhores do que outras.
Pérez Lópes e Polo propõem uma terceira possibilidade: o ‘sistema livre’, que é capaz de aprendizagem positiva e negativa que, em termos éticos, significa virtudes e vícios. Por isso que a capacidade de aprendizagem da pessoa como sistema livre é que propicia a ética, pois considera que é do ser humano a decisão livre de se melhorar ou piorar, estando sempre aberto ao crescimento irrestrito de sua humanidade. Se o ser humano fosse considerado um sistema aberto, não seria capaz de piorar e, neste caso, a ética não teria lugar. Toda tentativa de controle sobre o ser humano o desconfigura como sistema livre, aproximando-o, portanto, de sistemas fechados ou abertos.
As implicações do ‘ser humano como sistema livre’ para a Administração serão tratadas numa próxima oportunidade.