A dignidade enquanto objeto da reflexão ética

“Searchin’ high, searchin’ low

Searchin’ everywhere I know

Askin’ the cops wherever I go

Have you seen dignity”.[i]

(Bob Dylan, Dignity, 1989).

Dignidade é uma palavra conhecida por todos, e frequentemente citada nos mais diversos assuntos, ou seja, é uma palavra comum; essa noção compreendida acaba por não nos estimular a entendê-la, ou pensá-la, em relação ao outro. O que realmente nos leva a ter dignidade? E quando nos preocupamos com a dignidade alheia, ou seja, quando reconhecemos o outro como digno?

Para relembrar um pouco o que os dicionários informam sobre a dignidade, seguem algumas acepções: ser digno de algo, ser digno de respeito, ter honestidade, ter integridade, respeitabilidade e decência, entre tantos outros adjetivos. Ela também é a palavra que deriva do latim dignitate, que por sua vez significa honradez e virtude; portanto, ela remete à integridade moral de uma pessoa. Também se diz que ter dignidade é a qualidade de se ser. É o que nos impõe, ou pelo menos inspira, o respeito, o amor-próprio, o brio.

Com tantos significados, com tanta importância para o bem viver, é quase impossível pensar que a dignidade possa não estar presente nas teorias éticas. Tendo-se os filósofos Kant e Aristóteles como referências, buscou-se entender melhor a questão da dignidade, indo além do seu significado como palavra.

Kant se refere a ela como uma qualidade inseparável ao ser humano, ou seja, é algo intrínseco a natureza humana, é inato. O homem por si só é digno, tem respeito. Uma pessoa não concede dignidade a outra pessoa, ela já a possui. Cabe ao outro é aceitar, ou entender, que a outra pessoa também possui dignidade. Kant sempre direciona à objetividade, ao raciocínio, a consciência, e ao entendimento como lei universal, ou seja, remete as ações para a construção do imperativo categórico.  

Uma frase bem conhecida de Aristóteles é que a “dignidade não consiste em possuir honrarias, mas sim em merecê-las”. Para ele a dignidade é uma virtude, uma ação equilibrada; pois como a dignidade é um exercício de amor-próprio ao exceder-se ele se torna orgulho. É fácil transpor a linha divisória, é fácil exceder-nos em amor-próprio e brio.

Para Aristóteles a dignidade é uma prática, uma virtude que pode ser conquistada ao se desenvolver bons hábitos de conduta, ao se desvincular dos vícios e buscar o bem-viver.

Não parece ser difícil concordar que se busca viver com dignidade, que cada indivíduo almeja que o outro lhe permita se sentir digno e honrado. Então, para que se tenha dignidade leva-se uma vida com honestidade, integridade e todos os outros adjetivos já citados. Se requer, através das ações, o reconhecimento e merecimento em ser digno de algo.

 Mas será que permitimos que o outro mantenha ou desenvolva a sua dignidade? Será que nos preocupamos em permitir que o outro viva com honra e integridade moral? Dito de outra forma, reconhece-se o outro como digno?

Quais as ações que executamos que permitem aos demais exercitarem a sua dignidade? Que tratamento dispensamos aos que estão ao nosso redor?

Se há consciência do que é preciso fazer para que se viva com dignidade, se ela é implícita ao ser humano, também não se sabe o que fazer para diminuir a dignidade dos outros ao não a reconhecer?

Esta reflexão não traz respostas, estas se encontram no interior de cada um: em ações, crenças e interesses. O que se buscou foi demonstrar o significado da dignidade em termos filosóficos, e em relação a própria definição na língua portuguesa.

Pode-se resumir ao dizer que Kant a defende como inerente ao ser humano, é de sua natureza, precisará apenas da própria consciência. A pessoa é quem decidirá se agirá de forma digna ou não. Já Aristóteles a vê como uma construção do caráter, onde o reconhecimento de ser digno é externo, há o reconhecimento do outro como digno

A dignidade já foi abordada em posts anteriores, analisada em seu significado Constitucional, e teológico, aqui complementa-se com a abordagem filosófica.

“So many roads, so much at stake

Too many dead ends, I’m at the edge of the lake

Sometimes I wonder what it’s gonna take

To find dignity” [ii]

Referências:

Dignidade. Michaelis: dicionário brasileiro da língua portuguesa. Disponível em:   ttps://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/dignidade/. Acesso em: 09 set. 2022.

Dignidade. Dicionário Informal. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/dignidade/. Acesso em: 09 set. 2022.

QUEIROZ, Victor Santos. A dignidade da pessoa humana no pensamento de Kant. Jus.com.br. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/7069/a-dignidade-da-pessoa-humana-no-pensamento-de-kant/3. Acesso em: 12 set. 2022.


[i] “Procurando aqui e ali, procurando em todos os lugares que conheço, perguntando aos tiras onde quer que eu vá, ‘você viu a dignidade’?”

[ii] “Tantas estradas, tanto em jogo, tantos becos sem saída, estou na beira do lago. Às vezes eu imagino o que é preciso para encontrar dignidade”.

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