O que é Inteligência Artificial? (Parte 1)

A Inteligência Artificial (IA) está se tornando um daqueles termos que todos conhecem, falam sobre, mas na hora de pensar na sua definição, surgem dificuldades. Assim, começo este texto sugerindo uma reflexão: primeiro, pense no que é a IA e, em seguida, olhe a sua volta e tente identificar onde ela está atuando.

Não se preocupe se não foi fácil: ainda não há consenso sobre a sua definição, nem na literatura da área. Falar que é uma tecnologia é muito abrangente e dizer que é uma máquina inteligente é pouco preciso. Uma calculadora, por exemplo, é uma máquina inteligente para fazer cálculos, mas não é um tipo de IA. 

Uma estratégia poderia ser entender o significado das duas palavras do termo separadamente. No entanto, por um lado, se decifrar a inteligência trás à tona uma longa discussão ainda sem resposta, entender a inteligência no contexto da IA pode ser uma tarefa controversa e ainda mais complexa. Por outro lado, embora seja simples entender que artificial significa não humano, a IA é um campo vasto que vem desenvolvendo ferramentas com comportamentos inteligentes, mesmo que ainda em ambientes controlados e por períodos particulares. Em resumo, compreender a inteligência é desafiante, mas ao tentar atribuir inteligência à tecnologia complicou ainda mais a questão (ARKOUDAS; BRINGSJORD; 2014). 

Neste interim, deixo uma dica: recorrer à história pode trazer uma luz! 

Em 1956, John McCarthy usou o termo “inteligência artificial” pela primeira vez na seminal Conferência de Dartmouth (FRANKILIN, 2014). Não se engane, a IA não foi desenvolvida neste evento, mas figurões da área se reuniram no workshop para interagir e trocar ideias. Neste grupo, estavam Marvin Minsky, Herbert Simon, Allen Newell, Claude Shannon e Nathaniel Rochester, por exemplo, que se tornaram, nas décadas seguintes, os responsáveis por importantes evoluções na área da computação e criadores de proeminentes centros de pesquisa em IA (FRANKILIN, 2014; RUSSEL; NORVIG, 2009). Assim, é possível compreender que a ideia da IA surgiu bem antes do seu desenvolvimento técnico em si, refletindo em sua essência a interdisciplinaridade representada pela intersecção dos dois maiores desenvolvimentos intelectuais do século 20: a teoria da computabilidade e a revolução cognitiva (ARKOUDAS; BRINGSJORD; 2014).

Numa próxima oportunidade, porém, mostrarei como, apesar da expressão inteligência artificial ser um fruto da conferência de Dartmouth, a sua imaginação e o provável início, em contrapartida, são muito anteriores. Também pularei importantes invenções, como a os algoritmos, para elencar alguns pontos que, hoje, julgo úteis para esta reflexão. O primeiro é o machine learning (aprendizado da máquina), que definiu o campo da IA ainda nos seus primórdios. O segundo é o deep learning (aprendizado profundo), que trouxe a redes neurais artificiais que usam o cérebro humano como modelo (KAUFMAN, 2018). Dessa forma, percebe-se que apesar do desenvolvimento da IA não ter como intuito replicar explicitamente a inteligência humana, os seres humanos acabam sendo um padrão de comparação (COECKELBERG, 2020). Por consequência, tendo em vista estes precedentes, destaca-se que a inteligência artificial é, evidentemente, um campo o técnico ligado à computação e engenharia, mas também é uma nova área da ciência com fortes ligações filosóficas por ter como base o homem e a sua inteligência como um dos padrões (FRANKLIN, 2014). 

Por fim, finalizo este texto pedindo para voltar à reflexão inicial e pergunto: depois e saber destes fatos, você mudaria a seu conceito e sua forma de ver a IA? 


Referências:

Arkoudas, Bringsjord cap 2 In Frankish, Keith (ed.), The Cambridge Handbook of Artificial Intelligence (pp. 316-334). Cambridge University Press, 2014.

Coeckelberg, M. AI Ethics. The MIT Press essential knowledge series. Cambridge, MA: The MIT Press, 2010.

Frankish, Keith (ed.), The Cambridge Handbook of Artificial Intelligence (pp. 316-334). Cambridge University Press, 2014.

KAUFMANM, Dora. A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana? (Coleção Interrogações). Edição do Kindle. Estação das letras e Cores. Barueri, SP: 2018.

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