Para fazer bem, é preciso tempo

Um dos determinantes na ordenação da vida do ser humano, é o tempo. Sobre tudo o que fazemos temos o hábito de nos perguntar se teremos tempo de executar determinada ação, ou se naquele determinado momento, ela nos será útil. Por se tratar de um aspecto tão diluído em nossas vidas, não é comum pararmos para refletir sobre o tempo e como temos o poder de transformá-lo num recurso útil e fundamental, ou então, quando mal gerenciado, em tentativas fracassadas, improdutivas e ociosas de viver a vida. Este short paper, não intenta entrar nos debates complexos dos filósofos e físicos no que diz respeito à constituição e percepção do tempo. Antes, uma sucinta ponderação sobre o tempo, techné e práxis.

Quem nunca, influenciado por um ídolo musical, se sentiu tentado a tocar um instrumento, montar uma banda e sair cantando e tocando por aí? Ou então, sob os efeitos de uma leitura cujo autor possuía escrita impecável, desejou escrever livros e poesias? Quem nunca desejou ter um desempenho atlético como o daquele admirado esportista? Ou nunca lutou contra uns quilos a mais e desejou fazer uma dieta que se perdeu pelo meio do caminho? Estas interrogações, embora distintas em ocorrências, possuem em comum o tempo e finalidade. Como tudo que se faz na vida, é preciso ponderar o tempo e a finalidade.

O quanto se deseja algo, não será suficiente se não lançar mão de investimento temporal, aperfeiçoamento na execução e deliberação sobre a ação. Quem toca um instrumento sabe que a excelência somente se alcança por meio da prática constante que resultará numa execução exímia. Para os que praticam esportes de alto rendimento, a prática comprometida de exercícios físicos garante o condicionamento requerido para participar de competições. E até mesmo para a realização de uma dieta, fazer bem os itens propostos é necessário para que se atinja o propósito final. Fazer bem, é imperativo para quem deseja investir satisfatoriamente no tempo.

A techné, uma das três partes distintas do conhecimento humano desenvolvidas por Aristóteles, está associada ao conhecimento produtivo que explica como surge o ato ou objeto (KAVVANAGH, 2013). A techné é, nesse sentido, a perfectibilidade da capacidade de fazer algo. Saber fazer, entretanto, não é suficiente para dar perenidade a legitimidade uma decisão tomada, e que, ao ser praticada, afetará a forma de viver bem como a maneira de distribuir o tempo e influenciar escolhas do indivíduo. Para isso, a práxis, que é o elemento da ação ética, faz com que ele aja com uma orientação racional e ética, proporcionando ao sujeito a capacidade de estabelecer as motivações de determinadas ações e ponderar porque executá-las é bom para si.

O processo da ação não é isento de esforço. Ao deliberar o porquê que determinadas ações são boas e porque devem ser implementadas, o processo do agir, do fazer – e fazer até se tornar excelente, techné – demanda tempo, dedicação, persistência, certas renúncias e em alguns momentos, frustrações. É, porém, necessário para quem deseja ser bom naquilo que faz. Seja para quem toca algum instrumento, cante, pratique esportes, escreva poesias, livros ou artigos, e até faça uma dieta, se o fizer com mediocridade, o tempo dedicado não será um investimento, e sim um desperdício. Para quem deseja excelência naquilo que faz, é preciso ter em mente que, para fazer bem, é preciso tempo.

Referências:

KAVANAGH. D. Problematizing practice: MacIntyre and management. SAGE Journals, [s.l.], v. 20. ed. 01, p. 103 – 115, jan. 2013.

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