Gratidão e liberdade como filosofia de vida

A reflexão de hoje é resultante de uma abordagem a partir do livro de Lawrence W. Reed: “Como se preparar para uma economia liberal”. Esta reflexão não aborda os aspectos da economia liberal, mas se utiliza de alguns dos argumentos que o autor menciona para a economia liberal: gratidão, liberdade e filosofia de vida. 

Parece-me que pouco mencionamos ou demonstramos a gratidão, a impressão é de que isso ocorre porque as vezes ser grato causa mal-estar, vergonha ou algum sentimento negativo. Qual será o motivo para esse desconforto? Não me refiro, diretamente, a quem está lendo, possivelmente você é uma pessoa grata; refiro-me às pessoas de maneira geral.

Para Emmons a “gratidão é o reconhecimento que um indivíduo faz de tudo o que é bom em sua vida, e o reconhecimento de que a fonte dessa bondade reside, pelo menos em parte, fora do seu próprio ser.” (apud REED, 2019, p. 28). Assim, para ser grato é necessário admitir que há algo ou alguém, além de si mesmo, que influência nos acontecimentos. Admitir que o indivíduo não é totalmente responsável pelo que lhe acontece pode gerar desconforto em algumas pessoas. 

O autor não menciona, mas me questiono: será que a ingratidão é devido ao fato de a pessoa achar que merece mais do que o que foi recebido, adquirido ou reconhecido? Parece-me não haver contentamento, em pouco ou nenhum grau, como se fosse obrigação dos outros, ou do mundo, lhe fazer feliz. Reed diz que as pessoas que têm dificuldade em ter gratidão, normalmente são pessoas infelizes. E faz sentido, pois a satisfação nunca será alcançada, as coisas, assim como as conquistas e relacionamentos nunca serão satisfatórios. Será a eterna busca do que não será alcançado. Imagino que sentir-se assim gere tristeza.

Emmons (apud REED, 2019, p. 28) diz que as “pessoas gratas experimentam níveis mais elevados de emoções positivas com alegria, entusiasmo, amor, felicidade e otimismo, e que a prática da gratidão como princípios as protege dos impulsos destrutivos da inveja, ressentimento, ganância e amargura.” Parece que sentir gratidão realmente nos torna mais felizes, amorosos e saudáveis. Mas, será que a minha gratidão afeta a vida de outras pessoas? Eu ser grato influenciará outra pessoa? Quando penso em meus sentimentos e sensações, afirmo que isso afeta as vidas ao seu redor. Parece ser difícil ficar à vontade com pessoas com permanentes pensamentos negativos, que estão sempre tristes, insatisfeitos e de mal com a vida. E como se houvesse apenas os registros desfavoráveis ou ruins na vida.

Penso que a vida para uma pessoa grata é acolhida como uma dádiva, nem sempre perfeita – e nem sei o que seria essa perfeição – nem sempre fácil ou alegre, mas, ainda assim, uma dádiva, que merece ser vivida com entusiasmo e gratidão. 

Emmons, em pesquisa realizada com seus colegas, chegou à conclusão de que sentir gratidão nos torna mais longevo “A ciência em torno da gratidão prova que ela é um elemento indispensável para a felicidade, e a felicidade, por sua vez, agrega 09 anos à expectativa de vida.” (apud REED, 2019, p. 28). Acredito que só as pessoas felizes e gratas quererão viver por mais tempo.

A gratidão também é um sentimento que requer liberdade, e esta se manifesta como uma filosofia de vida. Porém, só sentiremos a liberdade a partir do momento em que resolvermos nossos problemas; mais precisamente quando nos conhecemos, entendemos quem somos, o que representamos para nós, e para os outros, e onde queremos chegar. Ou seja, quando as adotamos como filosofia de vida.

Reed (2019, p. 57) diz que “A filosofia de vida é feita de dois componentes: o primeiro é como você se vê. O segundo é como você vê (e interage com) os outros na sociedade.” É fácil supor que perceber o outro, e com ele interagir, requer o autoconhecimento. Como desenvolver uma filosofia de vida sem saber o máximo sobre si?

 Ele menciona que uma pessoa livre, e, portanto, com autoconhecimento, possibilita uma sociedade livre, a “[…] liberdade é construída por meio da habilidade de uma sociedade se autogovernar […]. Essa habilidade de autogoverno é, em si, edificada […] sobre a base sólida do caráter individual (REED, 2019, p. 42).

A condição de liberdade como uma filosofia de vida é o caráter, o bom caráter. Ser livre, diz o autor, requer a vivência de elevados padrões de caráter.

 Supõe-se que o caráter se torne necessário para que o indivíduo não requeira a liberdade como algo exclusivo para si, mas que a entenda como possibilidade para todos que a quererem. Reed menciona que não se deve esperar ser livre e ao mesmo tempo apoiar a supressão da liberdade alheia. 

Para se perceber que a liberdade é algo para todos, é preciso admitir que o que me pertence é uma conquista alcançada com a ajuda de outras pessoas, as quais merecem gratidão. Perceber o significado do outro requer a existência do autoconhecimento e do caráter bem desenvolvido, e para tanto será necessário desenvolver a filosofia de vida.

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