A Ética Empresarial e a Realidade Brasileira

O viés da ética empresarial vem ganhando força à partir da década de 60, após
diversos escândalos envolvendo fraudes, corrupção, subornos e más-condutas,
evidenciando a necessidade de se repensar as práticas organizacionais, sendo estas
também cobradas pela sociedade. Por ética empresarial compreende-se uma série de
princípios organizacionais, valores e normas que podem ser originados de indivíduos,
declarações organizacionais ou do sistema legal, que primordialmente orientam tanto o
comportamento individual quanto o comportamento coletivo no ambiente
organizacional (FERREL; FRAEDRICH; FERREL; 2013).

A ética empresarial também pode ser apontada como uma representação de
normas e valores efetivamente dominantes em uma empresa, baseando-se em uma
espécie de contrato social onde membros se comportam de maneira harmoniosa,
considerando os interesses uns dos outros. É importante ressaltar que dentro desse
contexto a organização trabalhe de forma a aumentar a qualidade de vida das pessoas
em todas as dimensões, não considerando apenas a rentabilidade, mas também o aspecto
humano, considerando a eficiência aliada à responsabilidade e o compromisso social
(LEISINGER; SCHIMIT; 2001).

Tratar da ética empresarial refletida na realidade brasileira, apresenta diversos
desafios, uma vez que os dados são escassos e incompletos, demonstrando a
necessidade de uma reflexão mais intensa sobre a tônica e de que forma essa ética
resulta num impacto que ultrapassa o ambiente organizacional. Cornacchione e Klaus
(2017) enfatizam que fazer negócios no Brasil requer um completo entendimento do que
a cultura ética empresarial significa no país e como esta está relacionada às ameaças e
oportunidades inerentes ao ambiente empresarial brasileiro, ressaltando a conexão
privada e pública, uma vez que existem diversas crises econômicas oriundas de
escândalos de corrupção e desvios éticos.

Apesar do aparente progresso notado nos últimos anos, a mudança de uma
cultura empresarial tradicionalmente paternalista, personalista e marcada pela
impunidade, não é processo simples e tampouco automático. A adoção de códigos de
conduta tem se mostrado ineficiente na finalidade de transformar a cultura empresarial
brasileira, tipicamente caracterizada pela concentração de poder, lealdade pessoal e
tentativa de contenção de conflitos. Ainda é colocado nesse contexto ético empresarial,
o “jeitinho brasileiro” que permeia o comportamento social e corporativo, dificultando
o desenvolvimento de uma cultura empresarial mais profissional e ética, tanto na esfera
de empresas privadas, quanto públicas, o que acaba por prejudicar um crescimento
nacional consistente (CORNACCHIONE; KLAUS; 2017).

A procura por padrões éticos mais elevados no ambiente empresarial brasileiro
vem acompanhada de ceticismo e incertezas, uma vez que esse padrão começou a se
reproduzir somente à partir de exigências de parceiros ou compradores internacionais,
resultando uma mobilização por marketing e reputação corporativa. Infelizmente a ética
não é valorizada por um grande número de empresas que operam no Brasil. Muitas podem tentar elevá-la e destaca-la na lista de valores da empresa, no entanto, as ações corporativas provam que a ética não é um valor a ser perseguido e usado diariamente
nas práticas organizacionais (BOWATER; 2015).

Referências:

BOWATER, D. Brazil’s continuing corruption problem. 2015, Disponível em:
Acesso em: 12/06/2018.

CORNACCHIONE, E and KLAUS, L. Ethical Business Culture in Brazil:
Advantages and Obstacles of National Jeitinho. 2017. Disponível em: < https://www.cambridge.org/core/books/ethical-business-cultures-in-emerging- markets/ethical-business-culture-in-brazil/42D5013BA562D6FEC765AF078E14B6A4 > Acesso em: 08/06/2018.

FERRELL, O. C., FRAEDRICH, J. & FERRELL, L. Business Ethics: Ethical
Decision Making and Cases. (10ª ed.). Cengage Learning, 2013.

LEISINGER, K. M. & SCHMITT, K. Ética empresarial: Responsabilidade global e
gerenciamento moderno. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

As visões e opiniões expressadas nos artigos são as dos autores e não refletem necessariamente a Política oficial ou posição do grupo AdmEthics

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