A discussão sobre cultura organizacional tem suas raízes na antropologia, onde o conceito de cultura vai além dos comportamentos visíveis, abrangendo crenças, valores e significados compartilhados. O termo “cultura”, emprestado da antropologia para o campo organizacional, adquire novas camadas de complexidade, sendo compreendido de diferentes formas conforme a abordagem adotada. Ao aplicarmos essa ideia no contexto das organizações, surgem diversas questões epistemológicas, o que amplia ainda mais o tema. A noção de organização também é interpretada de diferentes maneiras, adicionando desafios ao estudo da cultura nesse ambiente. Alguns veem a organização como uma estrutura formal e fixa, enquanto outros a percebem como um fenômeno fluido e subjetivo, no qual a cultura tem um papel determinante.
De acordo com Smircich (1983), a organização pode ser vista como um sistema vivo, dinâmico e subjetivo, onde as interações e percepções individuais formam a base da cultura organizacional. Essa perspectiva sugere que a cultura é influenciada pelas percepções pessoais dos indivíduos. Onde, cada membro da organização pode ter uma visão única de uma mesma situação, gerando o conceito de alteridade – ou seja, a natureza do outro ser diferente. Nesse contexto, o termo alteridade reflete como a cultura se manifesta de formas diversas, tornando-se um fenômeno efêmero e complexo, difícil de ser capturado em padrões rígidos ou universais.
Ao entender a cultura como um conjunto de conhecimentos e experiências compartilhadas, Smircich destaca sua natureza mutável. Para o autor, a cultura organizacional é moldada tanto por fatores internos quanto externos. O ambiente interno, como as relações de poder e os processos de comunicação, molda a cultura diariamente. O ambiente externo, como as normas sociais e os valores amplamente aceitos, também desempenha um papel crucial nesse processo. Por isso, estudar a cultura organizacional exige uma análise que vá além dos limites da empresa, incorporando as influências do contexto social mais amplo.
Dessa forma, ao adotar uma perspectiva epistemológica no estudo da cultura organizacional, fica claro que não existe uma única verdade ou interpretação. O conceito de cultura é plural, fluido e em constante transformação, exigindo uma abordagem interdisciplinar para sua compreensão completa. Contudo, a cultura organizacional pode ser entendida como um constructo social – ou seja, formada e reformada continuamente pelas interações e experiências dos indivíduos. Smircich (1983) argumenta que, devido a esse caráter mutável e subjetivo, a cultura nas organizações nunca é completamente estática, mas sim um fenômeno dinâmico. Isso torna seu estudo uma ferramenta essencial para compreender a complexidade das relações humanas dentro das organizações.
REFERÊNCIA
SMIRCICH, L. Concepts of Culture and Organizational Analysis. Administrative Science Quarterly, Vol. 28, No. 3, 1983, p. 339-358 (Tradução técnica para o português de Vera Carneiro da Cunha).