Capítulo 3 – Virtudes

O que é uma Virtude Intelectual? Roberts e Wood (2007) no livro Intellectual virtues: an essay in regulative epistemology[1] buscam delinear essa indagação de maneira reflexiva e perspicaz no decorrer das suas páginas. Partindo da ideia de que as Virtudes tornam uma pessoa excelente como ser humano, o presente texto objetiva sumarizar as principais ideias contidas no capítulo 3 do livro.

As Virtudes têm um significado tanto intelectual quanto não intelectual, embora de uma forma ou de outra todas elas tenham um aspecto cognitivo. Por exemplo, uma pessoa não pode querer tocar violão sem que saiba o que significa um violão e o que é tocá-lo. Os autores identificam a vontade (will) como um dos elementos centrais de um indivíduo virtuoso, sendo a sua constituição crucial para a formação do caráter intelectual. Desse modo, a vontade é aquilo que no repertório mental humano motiva e impulsiona a ação, podendo externalizar-se através do desejo, da preocupação, do cuidado, do interesse. São concebidas quatro funções da vontade: a) Atração; b) Escolha; c) Força de vontade; d) Emoção.

atração está relacionada ao desejo e à propensão para algo. As aptidões aparecem quando alguém tem uma vontade e está motivado para agir; o indivíduo intelectualmente excelente é aquele que acha o conhecimento atraente e é movido a procurá-lo tanto para si quanto para os outros. A vontade como poder de escolha envolve fazer algo que não é necessariamente desejado, mas que está relacionado ao cumprimento do dever, exercendo seu arbítrio de julgar os desejos. Desse modo, ainda que não seja a alternativa mais atraente, a escolha tem uma razão para tal. A força de vontade é a gestão dos impulsos, ou seja, a capacidade de suprimir comportamentos e ações indesejadas. Já a vontade como fonte das emoções, baseia-se nas preocupações e sentimentos.

O amor ao conhecimento é uma virtude básica para a vida intelectual, pois propicia um contato epistêmico direto com a realidade e desfruta do aprendizado. A caridade intelectual também é uma virtude quando há amor a Deus e ao próximo, de forma a interpretar os escritos com generosidade e benevolência. A humildade intelectual é caracterizada pela ausência de vícios do orgulho, como a vaidade, a arrogância e a presunção. A consciência intelectual envolve deveres, tais como, questionar os motivos para defender uma posição e examinar as evidências com afinco e honestidade. Por fim, a coragem intelectual é a capacidade de desempenhar bem as tarefas intelectuais, apesar das ameaças que porventura podem ocorrer. A esfera de atuação das Virtudes é desafiadora, porque envolve disciplina tanto auto-imposta quanto imposta por outros. 

Há uma ressalva na ideia de que a vontade nos move, pois é o objeto que nos move devido à condição de nossa vontade. Por exemplo, é a preocupação que motiva ajudar alguém que sofre. Posto isso, nota-se que há algo transcendental. A pessoa não é apenas um conjunto de aptidões acrescida de um conjunto de suscetibilidades atraída por uma perspectiva ou objeto, há uma avaliação dos objetos de seus impulsos, desejos e atrações para a elegibilidade da ação. Isto é, o indivíduo virtuoso não faz aquilo que gosta mas o que avalia ser o melhor, de maneira autônoma e por razões intrínsecas. 


[1] ROBERTS, Robert C.; WOOD, W. Jay. Intellectual virtues: an essay in regulative epistemology. Oxford: Oxford University Press, 2007.

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