O Determinismo Tecnológico e a Construção Social da Tecnologia

Os debates em torno da tecnologia têm se tornado proeminentes na academia à medida que os artefatos adquirem cada vez mais requinte. Seguindo a lógica, estudos sobre Inteligência Artificial estão tomando espaços que transcendem as áreas de engenharia e ciência da computação. Por suas implicações éticas, morais, filosóficas e antropológicas, estudiosos estão se debruçando a fim de compreender como esta tecnologia está afetando e afetará a vida dos seres humanos.

Dentre as diferentes formas de compreender o papel que a tecnologia exerce – e nela, contida a IA – existe o dualismo do determinismo social e o determinismo tecnológico. O primeiro deles está associado a uma perspectiva transformada e redimida da tecnologia onde esta, a serviço do homem, será capaz de contribuir como uma ferramenta que sirva a todas as pessoas. No oposto desta perspectiva está o determinismo tecnológico que considera as tecnologias como a causa principal das mudanças na sociedade. Nesse sentido, as tecnologias passam a constituir um novo tipo de sistema cultural que reestrutura inteiramente o mundo social como objeto de controle (ELLUL, 1967).

De acordo com Neil Postman, vê-se uma sociedade em que o velho mundo, símbolos, mitos e outros ícones não tecnológicos renderam-se ao poder opressivo e à força da visão de um mundo tecnológico, uma sociedade rendida à primazia do desenvolvimento e inovação tecnológicos (POSTMAN, 1992). O autor segue o raciocínio afirmando que atualmente a humanidade enfrenta a chamada “Síndrome de Frankenstein”, onde o homem cria uma máquina para um propósito particular e limitado, entretanto, assim que ela é construída descobre-se – sempre para a surpresa dos seres humanos – que tal criação não é somente capaz de mudar hábitos, mas de mudar hábitos mentais.

Em Maio de 2014, o cosmologista Stephen Hawking, o cientista da computação Stuart Russel e os físicos Max Tegmark e Frank Wilczek publicaram uma carta aberta no jornal britânico The Independent, soando os alarmes sobre os graves riscos que as tecnologias emergentes da Inteligência Artificial representam para a humanidade. Eles convidaram os leitores a imaginar essas tecnologias superando mercados financeiros, superando pesquisadores, manipulando líderes humanos e desenvolvendo armas as quais o homem é incapaz de conceber. Seguindo a mesma direção, cerca de dois meses atrás, em um famoso podcast, Elon Musk afirmou que num cenário futuro, a fusão do homem com a IA é a melhor alternativa para o ser humano, como ele mesmo afirmou “se você não pode derrotá-la, junte-se a ela”, ainda declarando que a criação será capaz de superar seu criador e, no pior dos casos, subjugá-lo.

Tais perspectivas representam algumas das visões sobre o receio do impacto da IA na vida futura dos seres humanos. Sobre isso, é possível perceber um receio latente. Entretanto, ao compreender em maior profundidade o que de fato compõe a IA, e a esta visão atrelar elementos éticos, filosóficos e antropológicos, entende-se que muito do que se houver falar de IA não passa de uma ingenuidade crédula nos filmes de ficção científica de Hollywood (BARTNECK, et al. 2021) e do desejo incessante do homem de criar algo a sua própria imagem e semelhança. É preciso enriquecer o debate com doses de realidade e racionalidade. Não tenha medo, o seu aspirador robô não está planejando te atacar na calada da noite. 

Referências

BARTNECK C, LÜTGE C, WAGNER A, WELSH S. An Introduction to Ethics in Robotics and AI. Springer, 2020.

ELLUL, J. The technological society. New York: Knopf. 1967.

POSTMAN, N. Technopoly : the Surrender of Culture to Technology. New York :Knopf, 1992.

Image. Link: https://mediamasas.wordpress.com/2016/03/04/el-determinismo-tecnologico/.  Acesso (21/05/2022).

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