Recentemente os pesquisadores do grupo Lucas C. Carneiro, Bruno C. Castro e Gabriel M. Faria desenvolveram um estudo sobre o estado de fluxo em praticantes de vela náutica e montanhismo. O fluxo diz respeito ao estado que estamos quando nos sentimos imersos numa tarefa, presente, plenamente conectados. Os pesquisadores foram verificar como o fenômeno se dá na prática de esportes em ambiente natural. Dentre as 292 respostas do estudo foi possível perceber a importância do significado da atividade ao ar livre na vida dos praticantes.
Acredito muito que experiências radicais nos tornam mais fortes espiritualmente. O contato com a natureza nos torna mais sensíveis, e nós voltamos a ser humanos. O asfalto embrutece.
–Relato de participante do estudo
A experiência de se colocar à prova em ambiente natural, praticando vela ou montanhismo, envolve tensão, risco. Essa tensão é discutida pela psicologia na logoterapia de Viktor Frankl, para quem o ser humano, ao invés de evitar a tensão, a busca. O autor salienta ainda: “é evidente que não se trata de esmagar o homem com uma tensão gigantesca. O que ele precisa é de uma tensão sadia, dosada”, a qual o esporte, como fenômeno humano, tende a criar (Frankl, 2019, p. 70). Essa tensão pode ser provida de um objetivo, uma finalidade que dê propósito à atitude realizada, o que nos torna “mais forte espiritualmente”.
Contudo é necessário um fino equilíbrio. O indivíduo deve se sentir desafiado, ao mesmo tempo em que detém algum controle da situação. É na justa medida entre o caos e ordem que o aprendizado se dá de forma mais intensa (Peterson, 2009). Visto dessa perspectiva, o estado de fluxo tende a ocorrer quando adentramos em território desconhecido (caos), com o aprendizado já adquirido integrante do espaço conhecido (ordem). Vivencia-se um engajamento significativo quando se faz corretamente a mediação entre essas duas forças, ou seja, quando se tem algum controle da situação mas, ao mesmo tempo, se é desafiado .
É nesse sentido que “o contato com a natureza nos torna mais sensíveis, e nós voltamos a ser humanos” e o “asfalto embrutece”. Quando alguém está no espaço de crescimento, engajado no fluxo, equilibrando ordem e caos, a tendência é crescer espiritualmente e se tornar mais sensível. Ao passo que, se o indivíduo se deixa dominar por uma ordem excessiva, representada no relato pela palavra “asfalto”, ele embrutece.
Referências:
CSIKSZENTMIHALYI, M. Finding Flow: The Psychology of Engagement with Everyday Life. Nova York: Basic Books, 2020.
FRANKL, Viktor E. O Sofrimento Humano – Fundamentos antropológicos da psicoterapia.
PETERSON, Jordan B. Mapas do Significado: A arquitetura da crença. É Realizações. Editora, 2019.
