José estava exausto. Como o novo líder de uma startup de tecnologia em pleno crescimento, a pressão era imensa. Todo dia trazia uma nova crise que demandava uma solução imediata. Nunca parecia haver horas suficientes no dia para realmente parar e pensar as coisas com cuidado.
José sabia que decisões precipitadas muitas vezes levavam a consequências indesejadas no futuro. Mas como poderia criar espaço para uma reflexão cuidadosa quando as demandas do negócio nunca diminuíam?
Uma noite, após mais uma reunião, José se perguntou se não haveria uma forma melhor de lidar com a situação. Ele pensou no seu mentor, que sempre tomava tempo para considerar todos os lados de uma questão antes de agir. Havia uma calma e clareza na liderança de seu mentor que José admirava.
No dia seguinte, José fechou a porta do seu escritório e cancelou a agenda. Pela primeira vez em meses, ele se permitiu respirar. Enquanto os problemas e as soluções propostas passavam por sua mente, José trabalhou conscientemente para desacelerar o seu pensamento, para olhar os desafios de várias perspectivas.
Foi um trabalho difícil e lento. Mas daquela solidão surgiu algo um tanto estranho. José percebeu que poderia tomar melhores decisões que equilibrassem a urgência com o cuidado pelos impactos de longo prazo. Sua liderança, agora mais ponderada, mudou qualitativamente.
O que despertou em José? Vamos tentar entendê-lo da perspectiva de uma virtude: a prudência.
A ética das virtudes, proposta por Aristóteles e amplamente desenvolvida por Tomás de Aquino, oferece um arcabouço filosófico para a tomada de decisões no campo da Administração, especialmente sob o prisma da business ethics. No centro dessa ética está a virtude da prudência (em grego phronesis; em latim pro videntia, aquele que vê antes ou aquele que vê adiante), também traduzida como sabedoria prática. Ao contrário de uma simples habilidade técnica, a prudência é uma qualidade moral que orienta o indivíduo a deliberar, julgar e agir de forma adequada em qualquer circunstância, sempre em busca do bem verdadeiro. Na Administração e liderança, a prudência é essencial, pois dá “a medida”, organiza e direciona todas as outras virtudes – como a justiça, a coragem e a temperança – no processo de tomada de decisão. O líder prudente não apenas discerne as melhores opções, mas também executa suas decisões de forma eficiente, levando em conta as realidades concretas que envolvem cada situação.
Na filosofia aristotélica, a prudência é entendida como a capacidade de conectar princípios universais a situações particulares, de modo a escolher os meios corretos para alcançar os fins almejados, coerentemente com tais princípios. No contexto administrativo, isso significa que o gestor prudente é aquele que sabe analisar a realidade da sua empresa e do mercado, ponderando os prós e contras de cada decisão, sempre com base em dados concretos e experiências passadas. Além disso, a prudência implica em uma ação moralmente correta, que não visa apenas o sucesso imediato ou o lucro a qualquer custo, mas a sustentabilidade e o bem-estar de todos os envolvidos: colaboradores, clientes, fornecedores e a comunidade. Como mencionado pelo filósofo Josef Pieper, a prudência é a “arte de decidir corretamente” e, portanto, quem domina essa arte pode ser considerado moralmente maduro. Esse domínio, porém, não é inato, mas adquirido por meio da experiência e do exercício contínuo da reflexão e da deliberação.
A aplicação da virtude da prudência na Administração requer um processo decisório que passa por três etapas fundamentais: deliberar com maturidade, decidir com sabedoria e executar com firmeza. Um líder prudente, ao deliberar, considera cuidadosamente todos os aspectos de uma situação, reconhecendo suas limitações e evitando a precipitação. Ao decidir, ele age com a simplicidade que se alinha à retidão moral, evitando que sua decisão seja distorcida por paixões ou interesses mesquinhos. Finalmente, ao executar, o líder prudente é rápido, porém diligente, mantendo-se fiel ao que foi deliberado e decidido. O desafio está em transformar a análise teórica da realidade em ação concreta, sem perder de vista o bem comum.
Os obstáculos para aplicar a prudência na Administração são diversos e complexos, especialmente no contexto corporativo contemporâneo:
1. Pressão por resultados imediatos: no mundo dos negócios há uma constante pressão por resultados rápidos e lucros crescentes. Isso pode levar os líderes a tomarem decisões precipitadas, sem a devida reflexão e consideração das consequências a longo prazo.
2. Complexidade e incerteza: As organizações operam em ambientes cada vez mais complexos e incertos, com múltiplas variáveis e stakeholders a serem considerados. Isso dificulta o exercício da prudência, que requer uma compreensão clara da realidade e das relações de causa e efeito.
3. Conflito entre valores e interesses: nem sempre os interesses da organização estão alinhados com os valores éticos. O líder prudente precisa ser capaz de discernir o verdadeiro bem e resistir às pressões para comprometer os princípios em nome de ganhos de curto prazo.
4. Falta de tempo para reflexão: a atual velocidade no ambiente do trabalho deixa pouco tempo para a reflexão aprofundada que a prudência requer. Os líderes são constantemente bombardeados com informações e demandas, o que dificulta a criação de um espaço para a deliberação madura.
5. Cultura organizacional imediatista: muitas organizações têm culturas que valorizam a ação rápida e decisiva, em detrimento da reflexão cuidadosa. Isso pode criar uma pressão para se conformar e desencorajar o exercício da prudência.
6. Excesso de confiança: líderes bem-sucedidos podem ser tentados a confiar excessivamente em seu próprio julgamento, negligenciando a necessidade da humildade e de buscar conselhos de outros. Isso pode levar a decisões imprudentes.
7. Gerenciamento de riscos: a prudência requer um equilíbrio cuidadoso entre a precaução e a ousadia. Líderes podem ter dificuldade em discernir o nível apropriado de risco a ser assumido em diferentes situações.
Superar esses desafios requer um comprometimento consciente com o cultivo da virtude da prudência, além de mudanças nas culturas e sistemas organizacionais para valorizar e recompensar o processo de tomada de decisão ética e ponderada. Líderes prudentes precisam criar intencionalmente espaços para reflexão, buscar ativamente conselhos diversos e manter uma clara bússola moral para guiar suas decisões em meio à complexidade e pressões do mundo corporativo.
Como dica prática, cultivar o hábito da reflexão, do diálogo e do conselho com pessoas sábias e experientes é um caminho seguro para o desenvolvimento da prudência. A expressão popular “cai na real” serve como um lembrete oportuno para permanecer conectado à realidade concreta, evitando ilusões, racionalizações ou justificativas infundadas. Num mundo corporativo tantas vezes marcado pelo imediatismo e pela pressão por resultados, ter tempo suficiente para pensar antes de agir e agir com prontidão e firmeza uma vez que a decisão correta tenha sido tomada, pode ser o diferencial de uma liderança verdadeiramente ética e eficaz. Nesse caso, ser ousado faz parte de ser prudente.
* Este texto faz parte de uma experiência com a IA Generativa. A partir de minhas anotações de aulas e palestras, utilizei vários bots de IA para compor o texto, finalizado com a minha própria edição.