A fenomenologia nas ciências sociais: um resumo

1. O que é a fenomenologia?

“Fenômeno” significa aquilo que se mostra, não somente aquilo que aparece ou parece (BELLO, 2006) ou nas palavras de Husserl: “tudo aquilo que é vivência, unidade de vivência de um eu (…)” (HUSSERL, 1988, p. 176) sendo para o autor necessário a utilização de um método para que se possa os compreender (apud BELLO, 2006). Para Abbafnano (1993) a fenomenologia foi entendida por Husserl como uma ciência teorética, intuitiva, impessoal, não-objetiva, uma ciência das origens e dos primeiros princípios e da subjetividade, ou segundo Galeffi (2000) o método da crítica do conhecimento universal das essências.

Abbagnano (1993, apud BOAVA & MACEDO, 2011) afirma que a fenomenologia Husserliana é uma ciência intuitiva, pois ela tenta apreender as essências que se apresentam à razão de maneira análoga a forma que as coisas se apresentam à percepção sensível, sendo possível compreender o sentido das coisas em diferentes níveis de compreensão, com algumas sendo captadas de forma imediata e outras com maior dificuldade (BELLO, 2006). O ato de perceber é chamado de noesis (o cogitatio) e o percebido noema (o cogitatum), sendo o primeiro o objeto de investigação da fenomenologia (BOAVA & MACEDO, 2011). A busca pelo sentido das coisas, ou seja, a sua essência ou eidos, aquilo que pode ser captado e intuído, é o objetivo da fenomenologia, sendo o seu ponto de interesse não os fatos enquanto fatos, mas o sentido destes. Na visão de Husserl, fatos psíquicos não se equiparam a fatos físicos (SARDI, 2001, apud BOAVA, MACEDO & ICHIKAWA, 2010). A existência dos fatos é posta em parênteses para que se possa compreender a sua essência.

Segundo Galeffi (2000, p. 16) há uma fenomenologia empírica ou psicológica descritiva, relacionada à esfera das vivências, do “eu que vive” e uma fenomenologia transcendental, que se desligada da referência empírica, pretendendo ser uma doutrina da essência do conhecimento (a priori), gnosiológica. Esta última é uma fenomenologia da consciência constituinte, não possuindo qualquer axioma objetivo. Seu interesse não é a objetividade ou o estabelecimento de verdades para o ser objetivo, ou ciência objetiva, mas sim a consciência enquanto ela mesma. Sua tarefa é trazer luz aos nexos entre verdadeiro ser e o conhecer, investigando de forma geral as correlações entre ato, significação e objeto.

E apesar da palavra “fenômeno” significar “aquilo que aparece”, o estudo fenomenológico é principalmente destinado ao aparecer em si, ao fenômeno da consciência, onde o próprio sujeito do conhecimento é investigado em sua estrutura de comportamento graças a interdependência entre a “consciência que conhece e o mundo ou objeto que aparece ou se mostra cognoscível” (GALEFFI, 2000, p. 25, grifos do autor), sendo esta busca dos significados das experiências que chegam à consciência algo fundamental na fenomenologia (BOAVA, MACEDO & ICHIKAWA, 2010).

2. A consciência para a fenomenologia

Anterior à percepção, existe um caminho chamado por Husserl de síntese passiva, uma reunião de elementos que fazermos sem nos darmos conta. Antes de dizermos que temos a percepção de um copo que vemos, ocorrem algumas operações – como a distinção entre um objeto e outro. Através da percepção nós entramos nos atos de consciência, terreno onde diferenciamos os vários atos de qualidades diversas. A consciência é o estado de estar ciente dos atos que estamos realizando, “uma luz interior que acompanha todos os atos”, nas palavras de Edith Stein (BELLO, 2006).

Ao procurar relatar o que é dado diretamente na consciência a fenomenologia descreve e analisa a relevância e significado da experiência humana (BOAVA & MACEDO, 2011). Para Mora (1963 apud BOAVA & MACEDO, 2011) a consciência na visão de Husserl é intencional e age como um farol que lança a luz sobre os aspectos, aparências ou aquilo que se apresenta à consciência e ainda segundo Boava e Macedo (2011) Husserl via a consciência como a condição imprescindível do conhecimento, sendo ela sempre a consciência de algo. Porém para Husserl (1990) o conhecimento é incapaz de atingir as coisas em si, pois ele é apenas conhecimento humano ligado às formas intelectuais humanas e sendo a consciência apenas consciência humana, é ela portanto um existir fenomenal, um modo de ser-no-mundo.

Para Bello (2006) a consciência não é lugar físico ou específico, não possui caráter psíquico ou espiritual, mas é como um ponto de convergência de nossas operações. Segundo ela, só conhecemos a dimensão corpórea psíquica e espiritual graças a consciência, que nos permite fazer ou dizer o que queremos. Para a autora o primeiro nível de consciência está no nível dos atos perceptivos, como os de ver e tocar, estando no segundo nível os atos reflexivos, espécie de consciência dos atos perceptivos, onde estão registrados os atos, sendo no terreno do registro dos atos onde tudo que é vivenciado por nós se passa e ao nos basearmos na análise das sensações corpóreas que registramos, nós podemos afirmar que temos um corpo.

Continuando com o pensamento de Bello (2006) além da esfera corpórea e psíquica, há a esfera do espírito, aonde registramos o ato de controle do nosso corpo e da nossa psique. O espírito é a parte humana que reflete, avalia e decide e está ligada aos atos da compreensão, reflexão e decisão. Husserl via como importante a nossa dimensão psíquica, ou inconsciente, que na visão freudiana é quem comanda o nosso inconsciente. Porém, ela não a única a nos comandar, havendo a dimensão espiritual, que também o faz.

3. O método fenomenológico

A fenomenologia objetiva evidenciar o “o próprio modo de ser dos objetos que constituem a consciência humana” (GALEFFI, 2000, p. 24) através da estrutura fenomenal da consciência, elucidando e rastreando de forma gradual todas a possibilidades de dados da consciência, ou seja, ela é uma ciência dos conhecimentos como manifestações dos atos da consciência e dos fenômenos que se exibem e tornam-se conscientes de forma passiva ou ativa (HUSSERL, 1990).

A finalidade do método fenomenológico é ser descritivo, não empírico, dedutivo ou indutivo. Seu ponto inicial é a compreensão do viver, centrando-se na experiência humana (BOAVA & MACEDO, 2011). De acordo com Andion (2003, p. 3) o método fenomenológico busca descrever e interpretar de forma profunda a experiência vivida e os significados da vida humana.

Através do método fenomenológico (ou redução fenomenológica) há o retorno à consciência, um retorno às coisas mesmas, fazendo que os objetos se revelem na sua constituição, como correlatos da consciência. Este retorno radical à consciência pura, cria a suspeição de todos os dados provenientes da consciência empírica (psicológica, existencial, ôntica), possibilitando a investigação da consciência na sua constituição, no modo que a consciência constitui e é constituída pelos objetos em uma relação dialética indissolúvel (GALEFFI, 2000).

Há variações do método fenomenológico, não havendo somente um, ou o método. Segundo Spiegleberg (1982, p. 681 apud BOAVA & MACEDO, 2011) um passo a passo que é adotado por vários fenomenólogos é o seguinte:

  1. Investigam-se os fenômenos particulares: tal investigação se dá através do processo de intuir, analisar e descrever, onde: intuir é empreender um esforço para se concentrar sobre o objeto, “evitando que se perca a visão crítica”; analisar é delimitar a estrutura e os elementos do fenômeno apreendido pela intuição, porém, não se tratando de separá-los, mas de distinguir no fenômeno os seus constituintes; e descrever é a classificação dos fenômenos (BOAVA & MACEDO, 2011, p. 474)
  2. Investigam-se as essências gerais: etapa da intuição eidética. Se consideram os casos particulares como referência para descobrir as essências gerais. Nessa etapa, a imaginação tem papel importante, oferecendo a estrutura noemática. O essencial para a percepção é visto através da identificação do princípio norteador da intuição sobre o que pode e o que não pode ser imaginado como percepções. Nesta etapa o objeto não é descrito, mas o que se pode enxergar como objetivo, utilizando-se da variação imaginativa livre para distinguir o fenômeno original de sua essência (Boava e Macedo, 2011, p. 474).
  3. Captam-se as principais relações entre as essências: pode ser através da relação entre coisas separadas, mas unidas, ou entre as partes de uma única coisa.
  4. Observam-se os modos de aparição dos objetos na consciência.
  5. Explora-se a constituição dos fenômenos na consciência: através de uma análise da sequência de etapas essenciais do fenômeno, buscando determinar o caminho que este seguiu para se estabelecer e tomar forma na consciência, criando a possibilidade de determinar a estrutura típica de sua constituição na consciência.
  6. Suspende-se a crença no fenômeno: etapa onde se faz o uso da epoché, a colocação entre parenteses, onde é suspensa de forma momentânea a faculdade de avaliar, para que se possa verificar o fenômeno em uma nova perspectiva.
  7. Interpretam-se as significações ocultas: por fim, busca-se descobrir os significados que não foram manifestados nas etapas de intuição, análise e descrição.

A consciência em si não é posta em suspeição, mas sim todos os dados empíricos que se mostram fenômenos da consciência e seu próprio modo da consciência de conhecer, gerando um “conhecimento transcendental”, que dúvida de si mesmo. Para Galeffi (2000, p. 21) é no ato cognoscente que constituem-se os objetos da consciência e sendo a consciência sempre consciência de algo, o retorno à consciência é um retorno para às coisas mesmas, sendo este retorno, na visão de Husserl, o que possibilita que se construa uma ciência da essência do conhecimento.

Em suas investigações, Spiegelberg (1984) identificou que entre os passos mais usados por vários fenomenólogos estão (apud BOAVA, MACEDO e ICHIKAWA, 2010):

  1. Intuir, analisar e descrever. Trata-se da investigação dos fenômenos particulares.
  2. Considerar como referência os particulares, tentando investigar as essências gerais.
  3. Abandonar alguns componentes, substituindo-os por outros, processo conhecido como variação imaginativa livre, que intenciona captar as relações essenciais entre as essências.
  4. Observar os modos de aparição, havendo três sentidos de aparência: 1) o aspecto do objeto a partir do todo; 2) a perspectiva, deformação da aparência do objeto; 3) os modos de clareza, sua nitidez ou graus podem diferir um do outro.
  5. Determinar o caminho seguido para o estabelecimento e formação do fenômeno na consciência, visando explorar a constituição dos fenômenos, através da análise de seus passos.
  6. A faculdade de avaliar é suspendida momentaneamente, suspendendo o juízo sobre a existência ou não do fenômeno, assumindo uma atitude neutra, para que se possa verificar o fenômeno sob nova perspectiva (redução fenomenológica).
  7. Se interpretam significações ocultas.

Em geral, os três primeiros passos são adotados por praticamente todos os fenomenólogos, já os dois últimos passos são praticados pelos adeptos da fenomenologia hermenêutica (BOAVA, MACEDO e ICHIKAWA, 2010).

3. 1. A redução eidética e a redução fenomenológica

Segundo Boava e Macedo (2011) a redução serve para diminuir o subjetivismo nos estudos baseados no método fenomenológico, havendo dois tipos: a eidética e a fenomenológica (ou transcendental).

Na redução eidética, o objetivo é atingir o eidos, a essência (BOAVA & MACEDO, 2011). O pesquisador deve seguir os seguintes passos: assumir uma atitude objetiva diante do dado, tentando ver somente o dado, o fenômeno; eliminar momentaneamente qualquer teorias, hipóteses, descobertas ou outros conhecimentos prévios; suspensão das autoridade humanas e das tradições das ciências, somente observando as coisas que surgem diante dos olhos do pesquisador; revelar os fenômenos negligenciados, vendo todo o dado e não somente alguns aspectos do objeto; e descrever o objeto, analisando as suas partes (BOCHENSKI, 1971, apud BOAVA & MACEDO, 2011).

Já a redução fenomenológica busca desconsiderar o mundo real, em espécie de suspensão do juízo, colocando-o em parênteses para assim limitar o conhecimento ao fenômeno de experiência da consciência. Assim, é rompida tanto a crença no mundo exterior bem como a crença que as coisas são como se mostram (BOAVA & MACEDO, 2011).

4. Algumas tendências no movimento fenomenológico

Dentre as várias formas de fenomenologia estão (BOAVA, MACEDO & ICHIKAWA, 2010, p. 72; EMBREE et. al, 1997, apud BOAVA & MACEDO, 2011):

  • A fenomenologia descritiva: abordagem considerada reflexiva, evidencial e descritiva dos encontros como também dos objetos como encontrados;
  • a fenomenologia realista: procura as essências universais de vários assuntos, por exemplo, as ações humanas e seus motivos;
  • a fenomenologia constitutiva: consciente da utilização da filosofia das ciências naturais na fenomenologia e da aplicação da redução fenomenológica e da redução eidética;
  • a fenomenologia existencial: desenvolvida por Heidegger, discute conceitos como ação, conflito, desejo, finitude, opressão e morte. A fenomenologia Heideggeriana se fundamenta nos seguintes pressupostos (ESPITIA, 2000):
    • viver no mundo é a forma básica de ser-no-mundo do ser humano. O mundo humano é formado por um conjunto de relações, compromissos e práticas adquiridos dentro de uma cultura, algo possibilitado pela linguagem.
    • a atividade prática é a maneira fundamental em que as pessoas vivem no mundo. Para Heidegger (1999) os seres humanos, se involucram no mundo se submergindo de forma completa na atividade diária sem notar sua própria existência, comprometendo-se com as coisas que tem valor e significado de acordo com o seu mundo.
    • de uma forma não teórica, os seres humanos são capazes de interpretar a si mesmos, são auto interpretativos. O que é preocupante e importante para uma pessoa é ilustrado por seus interesses e inquietudes. Através da linguagem, a pessoa se representa no mundo, moldando a sua vida.
    • a pessoa não só tem um corpo, mas é corporal.
    • a pessoa é um ser-no-tempo.
  • a fenomenologia hermenêutica: considera que a existência humana é interpretativa, incluindo todas as tendências filosóficas supracitadas, porém, dando maior ênfase a hermenêutica, considerando só ser possível compreender o fenômeno dentro do contexto em que ele aparece. Neste ramo da pesquisa fenomenológica não há um ponto de chegada, todo o processo se inicia e retorna a experiência vivida (SILVA, REBELO & CUNHA, 2006).

5. A fenomenologia nas pesquisas empíricas

Uma pesquisa fenomenológica é centrada na questão de que maneira as pessoas experienciam o mundo, com o intuito de conhecer o mundo em que elas vivem como seres humanos (VAN MANEN, 1990, apud SILVA, REBELO & CUNHA, 2006).

Bello (2006) afirma que as ciências humanas não podem constituírem-se efetivamente sem a apreensão adequada do que vem a ser a dimensão espiritual em sua relação com a psique e com a corporeidade. Diferentemente das pequisas em moldes positivistas, uma pesquisa fenomenológica não pode seguir modelos pré-definidos. Em geral o pesquisador que começa uma pesquisa fenomenológica não possui um problema formulado de maneira clara e objetiva, nem hipóteses de trabalho, meios para definir previamente a extensão da amostra, ou como estruturar os instrumentos de coleta de dados e seus procedimentos de análise (GIL, 2010).

Na perspectiva positivista, os fatos sociais são tratados como coisas, cabendo ao pesquisador definir a área não explorada no conhecimento e propor a realização de uma pesquisa, através do uso procedimentos técnicos já reconhecidos pela comunidade científica. Já na pesquisa fenomenológica, a explicação e a análise dos fatos não são privilegiados, dando lugar a descrição (GIL, 2010). Os fatos não são tomados como coisas em si e há a intenção de fazer o leitor da pesquisa adentrar no fenômeno pesquisado, refletindo sobre sua própria experiência, partindo do relato feito pelo entrevistado (ANDION, 2003).

Para Giorgi (2008, apud BOAVA & MACEDO, 2011) uma pesquisa fenomenológica deve demonstrar que possui conhecimento da natureza intencional da consciência, utilizar da redução e de práticas descritivas minuciosas, buscando por meio de variações livres e imaginárias, essências ou estruturas próprias à disciplina.

O autor de uma pesquisa fenomenológica deve trazer o leitor para dentro da questão de pesquisa, deixando este maravilhado com a natureza do fenômeno, não simplesmente escrevendo a questão de pesquisa ao início de seu trabalho e a respondendo no final (VAN MANEN, 1990, apud SILVA, REBELO & CUNHA, 2006). Segundo Andion (2003) uma pesquisa fenomenologia nunca será a interpretação, mas sim, uma interpretação.

5. 1. Etapas de uma pesquisa fenomenológica

O primeiro momento de uma pesquisa fenomenológica é o pré-reflexivo, onde o pesquisador pretende conhecer algo, porém, um algo que não está bem explicitado (BICUDO, 1994, apud GIL, 2010). A pergunta inicial feita pelo pesquisador serve como norte e deve ser elaborada de forma que o pesquisador tenha liberdade (ESPÓSITO, 1994, apud GIL, 2010). Não pode ser formulada definitivamente, pois pode ser alterada no decorrer da relação com o pesquisado. Diferente de outros métodos de pesquisa, no método fenomenológico o pesquisador não elabora hipóteses para responder o problema, pois deve tentar deixar de lado o que conhece ou supõe sobre o fenômeno.

Para obtenção de dados, em geral o procedimento mais adequado é a de pedir aos participantes que relatem por escrito sua experiência, porém, como muitas pessoas possuem limitações na expressão através da escrita, entrevistas costumam serem a técnica mais empregada, em especial a entrevista não estruturada (VAN MANEN, 1990, apud GIL, 2010).

Os temas na pesquisa fenomenológica são delimitados com base no estabelecimento de categorias e são uma modo de encontrar significados do mundo vivido pelo pesquisado (SILVA & CUNHA, 2016).

Bicudo (1994) afirma que vale a pena lembrar que o método fenomenológico foi transposto para as ciências empíricas pelos seguidores de Husserl, não por ele (apud GIL, 2010). Um dos primeiros a adaptar o método fenomenológico da filosofia para as ciências empíricas foi Van Kaan (1956; 1966), com a adaptação mais usada de seu método consistindo nos seguintes passos (apud BOAVA & MACEDO, 2011, p. 477):

  • classificam-se os dados em categorias;
  • precisam-se os termos advindos da fala do sujeito pesquisado;
  • eliminam-se os elementos que não sejam inerentes ao fenômeno;
  • identificam-se os constituintes descritivos da experiência;
  • e aplica-se a descrição da etapa anterior a determinadas entrevistas selecionadas aleatoriamente.

Após as etapas anteriores serem concluídas com sucesso, pode ser considerada como válida e efetiva a descrição dos constituintes do fenômeno que está sendo investigado.

Uma variação do método de Van Kaam é a de Moustakas (1994, apud BOAVA & MACEDO, 2011) onde todas as expressões relevantes para a experiência são listadas e agrupadas, determinam-se os componentes invariantes, usando como critério a possibilidade da expressão ser rotulada abstratamente e se ela contém “um momento da experiência que seja um componente necessário e suficiente para compreendê-la (…)” (BOAVA & MACEDO, 2011, p. 477). Os componentes invariantes são então agrupados e tematizados, devendo estarem expressos de forma explicita na transcrição da entrevista, ou, caso não estejam, devem ser compatíveis com eles, eliminando-se os que estejam fora desses dois critérios. Os constituintes invariantes validados e temas para cada descrição da experiência são usados para a descrição textual individual e a partir desta descrição, é feita a descrição estrutural individual, que se baseia na descrição de cada experiência e na variação imaginativa livre. Por fim, é feita a descrição textual estrutural, descrição que deve representar o grupo como um todo.

Van Manen (1990, apud BOAVA & MACEDO, 2011) possui outra variação do método, onde procura-se atribuir sentido a algum aspecto da experiência humana, que é explorado em todas as suas modalidades e aspectos, refletindo sobre sobre os temas essenciais que caracterizam o fenômeno e evitando que concepções, experiências, lembranças e opiniões preconcebidas do investigador atrapalhem a investigação. Por fim, o contexto da pesquisa deve ser equilibrado, considerando as partes e o todo do fenômeno.

Outro método é o elaborado por Colaizzi (1978, apud BOAVA & MACEDO, 2011). Nele, deve-se:

  • adquirir uma visão do conjunto, lendo cada relato;
  • extrair destes relatos demonstrações significativas, formulando significados extraídos das colocações dos sujeitos;
  • descrever os fenômenos investigados de forma exaustiva, bem como a sua estrutura fundamental;
  • verificar os resultados obtidos com os participantes da pesquisa.

Por fim, há o método de Giorgi (1985), que de acordo com Boava e Macedo (2011) é o método mais utilizado na ciências humanas, sendo este constituído das seguintes quatro etapas:

  • se obtêm um sentido do todo através da leitura simples do texto;
  • as unidades de sentido são discriminadas, de acordo com o interesse da pesquisa;
  • as expressões da linguagem do sujeito pesquisado são transformadas numa linguagem onde o fenômeno investigado é pesquisado, tentando chegar a uma categoria geral;
  • transformam-se os resultados das unidades de sentido em colocações, sintetizando, integrando e descrevendo as descobertas das unidades mais significativas.

Referências:

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol. I a XIV. 1970.

ANDION, Carolina. Ser ou estar gerente? Reflexões sobre a trajetória e o aprendizado gerenciais. Ciencias da Administraçao, v. 5, n. 9, p. 2, 2003.

BELLO, Angela Ales. Introdução à fenomenologia. Edusc, 2006.

BOAVA, Diego Luiz Teixiera; MACEDO, Fernanda Maria Felício; ICHIKAWA, Elisa Yoshie. Guerreiro Ramos e a fenomenologia: redução, mundo e existencialismo. Organizações & Sociedade, v. 17, n. 52, p. 69-83, 2010.

BOAVA, Diego Luiz Teixeira; MACEDO, Fernanda Maria Felício. Contribuições da fenomenologia para os estudos organizacionais. Cadernos Ebape. BR, v. 9, p. 469-487, 2011.

CAPALBO, Creusa. Fenomenologia e ciências humanas. Editora UEL, 1996.

DA SILVA, Fabiula Meneguete Vides; DE ALMEIDA CUNHA, Cristiano José Castro. Reflexões acerca da experiência vivida na universidade: a transição de líder para contribuidor individual. Revista de Administração de Roraima-RARR, v. 6, n. 2, p. 274-298, 2016.

ESPITIA, Edelmira Castillo. La fenomenología interpretativa como alternativa apropiada para estudiar los fenómenos humanos. Investigación y educación en enfermería, v. 18, n. 1, p. 27-35, 2000.

GALEFFI, Dante Augusto. O que é isto–a fenomenologia de Husserl. Revista Ideação, Feira de Santana, v. 5, p. 13-36, 2000.

GIL, Antônio Carlos. O projeto na pesquisa fenomenológica. Anais do IV Seminário Internacional de Pesquisa e Estudos Qualitativos, 2010.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis, RJ. Vozes, v. 1, 1999.

HUSSERL, Edmund. Elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. HUSSERL, E. Investigações lógicas: sexta investigação: elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Nova Cultural (publicado originalmente em 1901), 1988.

HUSSERL, Edmund Gustav Albrecht; DA FENOMENOLOGIA, A. Idéia. Tradução: Artur Morão. Lisboa: Edições, v. 70, 1990.

SILVA, A.; REBELO, L.; CUNHA, CJCA. Aprendizagem de gerentes: a perspectiva da experiência vivida. Encontro Anual da Anpad, XXX, 2006.

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