Democracia, Religião e Política: os dilemas do século XXI

Este estudo explora a relação entre política, religião e democracia, apontando para possíveis desafios para a democracia, considerando a importância da participação popular para sua legitimidade. Considerando as consequências que surgem da participação dos grupos religiosos na sociedade como entidades públicas, nos questionamos: qual é a melhor maneira de avaliar as discussões públicas sobre assuntos polêmicos que colocam em conflito as identidades religiosas e seculares dentro das democracias liberais? A interação entre política e religião no contexto democrático é um tema complexo. A atuação de políticos com convicções religiosas pode ser orientada por uma perspectiva mais conservadora em questões morais. A religião, por sua vez, tem forte ligação com os valores familiares, incluindo o papel da “mulher-mãe” dentro dessa instituição (DUARTE, 2017, p. 157).

As estruturas democráticas estão intrinsecamente ligadas à participação popular e ao pluralismo político. Políticas que excluem determinados grupos podem comprometer a representatividade e a legitimidade do governo, desafiando a democracia e enfraquecendo suas estruturas. A literatura contemporânea também destaca uma crescente sobreposição entre conservadorismo moral e político, o que pode ser um desafio para a democracia. No entanto, o Estado de direito assegura que as políticas e ações do governo estejam em conformidade com os princípios legais e constitucionais, evitando divergências entre os objetivos políticos (DUARTE, 2017, p. 158). A separação de poderes contribui para a descentralização do poder, promovendo maior transparência. Isso resulta em um processo político mais legítimo, aproximando o cidadão, que é o verdadeiro legitimador da ação política.

No que diz respeito à política e à religião, ambas estão interligadas, considerando a representatividade predominante dos movimentos religiosos. Assim como um indivíduo religioso pode se tornar político, um político também pode ter convicções religiosas e agir em nome de uma divindade, independentemente de sua crença pessoal. As instituições religiosas influenciam as opiniões e valores dos indivíduos, impactando significativamente as legislações defendidas em nome da instituição da família e de uma divindade. Questões como eutanásia, aborto e casamento igualitário são debates influenciados por questões éticas e morais dos respectivos políticos e são temas centrais para a tradição religiosa. Na política, em relação à religião, pode haver uma predominância do elitismo, encontrando legitimidade em indivíduos predispostos a assumir uma posição mais conservadora, o que pode marginalizar e segregar comunidades e suas respectivas culturas não centralizadas. Nesse cenário, as minorias podem ser afastadas, resultando em uma delimitação da democracia concebida por elites, preservando o status quo das elites dominantes e mantendo as estruturas seculares. Por fim, os movimentos político religiosos são legitimados por uma parcela da população que defende os mesmos princípios. No entanto, é importante lembrar que a diversidade de opiniões e crenças é fundamental para a saúde de uma democracia.

Referências:
DUARTE, Luiz Fernando D. Valores cívicos e morais em jogo na Câmara dos Deputados: a votação sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma. Religião e Sociedade, v. 37, nº 1, p. 145-166. Rio de Janeiro, 2017.  

JUNIOR, C.; CAMPOS, R.; GUSMÃO, E. Antropologia e filosofia política: uma relação estranha? Ou como analisar controvérsias entre cidadãos seculares e religiosos em uma democracia liberal. Debate do NER, ano 18, n. 32, p. 143-170. Porto Alegre, jul/dez, 2017.  

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