Inteligência Artificial e Confiança

Diferente de todas as interações do homem com a tecnologia, a Inteligência Artificial (IA) tem acrescentado complexidade nas dinâmicas e trocas que estabelecem com as pessoas. Por possuir certo grau de autonomia nas respostas, que acontecem por meio de redes neurais artificiais, a conexão que se desenvolve entre IA e indivíduos precisam ser mais bem compreendidas e aprofundadas. 

É importante observar é que nesse sistema as ações são bidirecionais, ou seja, a IA é participante ativa no processo de tomada de decisão fornecendo diretrizes primárias para ações ou então sugerindo rotas de ação. Mesmo que em outros casos a decisão final seja executada ou tomada por um ser humano, há a necessidade de justificar a recusa da indicação fornecida pela IA. A troca existente entre pessoa e IA exige confiança por parte do usuário.

Outro aspecto a considerar nesse modelo relacional é a existência da incerteza, que pode gerar insegurança por parte do agente humano. Essa incerteza tem a capacidade de afetar a tomada de decisão e desencadear o receio de não saber agir da melhor maneira possível, uma vez que esbarra na apreensão de não saber se o melhor a fazer é agir com base nos critérios apontados pela IA ou seguir parâmetros próprios, sem ter o conhecimento a priori de qual é a decisão mais adequada.

Decidir bem é uma ação final que exige certo grau de segurança de saber fazer ou executar o ato, contudo, nessa nova forma de interação, a decisão que estava restrita somente à pessoa, é compartilhada com sistemas de inteligência artificial. Exige confiança numa tecnologia que aponta respostas e direciona a ação. 

Nesse sentido surgem problemas mais complexos e de natureza ética. A falta de fundamentos claros e coesos esbarram em perspectivas de certo e errado, de agir bem ou mal, de ser moral ou não. Essas esferas, que são próprias do ser humano, representam a complexidade existente nas associações com a IA. Elementos morais e éticos da pessoa influenciados pela tecnologia estão dentro do espaço maior da confiança.

Por fim, a complexa dinâmica que se estabelece entre ser humano e IA levantam alguns questionamentos que merecem atenção: 1. A confiança na IA afeta a autoconfiança do ser humano ao tomar decisões? Ou seja, a pessoa se sente segura em si mesma ao confiar em algo destituído de moral?; 2. Confiar nas respostas oferecidas pela IA é importante, entretanto, como se dá em casos de decisões complexas, onde a variável principal é a vida de outro ser humano?; 3. A interação existente entre ser humano e IA pode, de fato, ser chamada de confiança, uma vez que esse termo é característico da relação recíproca entre humanos?

Essas perguntas demonstram a necessidade de melhor compreender a confiança da pessoa para com a IA, bem como o uso de um termo que melhor explique essa dinâmica. Enquanto isso, os resultados dessa interação podem gerar incertezas e suscitar demandas de natureza ética. O campo permanece em aberto para estudos mais aprofundados a fim de oferecer direcionamentos que melhor expliquem o que de fato está acontecendo entre seres humanos, confiança e IA.  

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