O sucesso de uma pesquisa científica depende da correta execução de um certo número de procedimentos que exigem diferentes competências. Esse conjunto de etapas não se constitui como um simples somatório de técnicas isoladas, mas de um percurso global que tem sentido e que demanda por reinvenção a cada nova pesquisa (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Quando o pesquisador da área de ciências sociais se depara com alguma dificuldade, os motivos quase sempre são de natureza metodológica. É preciso compreender que uma pesquisa social consiste em uma sucessão de métodos e de técnicas a serem aplicadas em uma ordem determinada. No entanto, é possível variar a escolha, a elaboração e certas organizações dos processos de trabalho (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Para Quivy & Campenhoudt (1998, p. 19), a investigação em ciências sociais tem a função de:
“Compreender melhor os significados de um acontecimento ou de uma conduta, a fazer inteligentemente o ponto da situação, a captar com maior perspicácia as lógicas de funcionamento de uma organização, a refletir acertadamente sobre as implicações de uma decisão política, ou ainda a compreender com mais nitidez como determinadas pessoas apreendem um problema e a tornar visíveis alguns dos fundamentos das suas representações”.
No campo das ciências sociais não é possível construir verdades definitivas, mas apoiar-se em quadros teóricos e metodológicos elaborados que formam um campo parcialmente estruturado (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
No início de uma pesquisa é comum querermos estudar um certo tema ou problema, mas não sabemos muito bem como abordá-la. Essa confusão inicial é normal e não deve ser motivo de angústia. O pesquisador precisa sair dessa fase de forma correta. Entretanto, existem alguns erros comuns que cometemos que impedem de avançarmos. O primeiro deles é a gula livresca ou estatística, que ocorre quando o pesquisador se enche de uma grande quantidade de livros e artigos com a expectativa de encontrar as respostas que procura. O correto a se fazer é refletir sobre o que se procura conhecer e a forma de conseguir esse conhecimento. O segundo erro é o de evitar pensar nas hipóteses. É comum o pesquisador iniciante preocupar-se em conseguir dados de sua pesquisa sem antes ter formulado as hipóteses. O pesquisador só pode escolher o método de pesquisa se antes tiver uma ideia da natureza dos dados que ele irá buscar. É inútil ter a aplicação correta das técnicas se elas não estiverem dentro de um projeto mal definido e vago (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Todo procedimento é uma forma de progredir em direção a um objetivo. Da mesma maneira, um procedimento científico consiste em compreender seus princípios fundamentais e colocá-los em prática no trabalho de pesquisa. Nesse sentido, toda pesquisa deve obedecer a alguns princípios idênticos, mesmo que percorra caminhos diferentes a serem definidos pelo pesquisador (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Esses princípios são apresentados na obra Le métier de sociologue: Préalables épistémologiques (A profissão de sociólogo: pré-requisitos epistemológicos), publicado em 1968, escrito por Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon e Jean-Claude Passeronem. Os autores nomeiam esses procedimentos de “hierarquia dos atos epistemológicos”. São eles: (1) ruptura; (2) construção; (3) verificação ou experimentação (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
A ruptura consiste em romper com premissas e evidências falsas. Esse é o primeiro ato do procedimento científico: esquecer de ideias ilusórias sobre os fenômenos. No campo das ciências sociais, nossa bagagem intelectual muitas vezes se inspira em pressuposições falsas sobre certos fenômenos (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Na construção o pesquisador estuda e prevê qual é o plano de pesquisa a ser seguido. Isso exige um sistema conceitual organizado, fundamentado na teoria e com um quadro teórico de referência (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
A verificação é o terceiro ato do processo e consiste, obviamente, na verificação ou experimentação. Uma proposição só tem direito a chegar ao status científico se passou pelo teste de verificação ou experimentação (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Na obra “Manual de Investigação em Ciências Sociais“, Raymond Quivy e LucVan Campenhoudt (1998) desdobram essas três etapas em sete, conforme ilustra a figura:

Os próximos textos irão explicar cada uma dessas etapas.
Referências:
QUIVY, Raymond; VAN CAMPENHOUDT, Luc; SANTOS, Rui. Manual de investigação em ciências sociais. 1998.