O empreendedor

“Cada um de nós tem uma vocação, um carisma. Poucos têm a capacidade de encontrá-la e a coragem de segui-la. A pintura mostra um rosto surreal e idealizado, por trás do qual se abre uma paisagem abstrata que simboliza a vocação individual”. – Vocação, Pintura de Tonia Erbino.

Empreendedor. A palavra empreendedor vem do verbo francês entreprendre que significa começar algo. O economista e banqueiro Richard Cantillon (1680-1734) publicou, em 1755, o livro Essai sur la Nature du Commerce au General, e utilizou a palavra empreendedor pela primeira vez. Segundo ele, o empreendedor é aquele envolvido em trocas de mercado por sua conta e risco, a fim de obter lucro. Temos aqui dois principais pilares que fundamentam a visão de Cantillon: uma função e uma motivação. A função – econômica – comprar por um preço determinado e vender por um preço indeterminado assumindo os riscos e, sua motivação – única – obter lucro.

Mas qual o motivo de retornar ao século XVIII para entender uma palavra que é amplamente utilizada nos dias de hoje? Ao nos depararmos com o primeiro conceito da palavra empreendedor e, ele estar ligado apenas a motivação de obter lucro, transformamos o empreendedor em um homem ‘mau’, que se deixa levar por suas paixões – nesse caso o dinheiro. Não estamos negando a existência dessa motivação, inclusive, segundo Aristóteles, a maioria dos seres humanos são levados por suas paixões. Porém, ser empreendedor, em muitos casos, vai além da obtenção de lucro. Portanto, propomos uma nova reflexão acerca dos diversos empreendedores que fazem parte de nossa sociedade, transferindo a eles o conceito de homem ‘bom’ de Aristóteles:

“O homem bom tem o dever de amar a si próprio (pois ele mesmo encontrará benefícios ao praticar o bem, ao mesmo tempo em que beneficiará os outros), enquanto o homem mau, não (pois ele causará danos ao mesmo tempo para si próprio e para seus próximos, deixando-se levar por suas más paixões). Entre os homens maus, então, existe um desacordo entre o que ele deve fazer e o que ele faz, enquanto o homem bom faz o que deve fazer, já que o intelecto sempre escolhe o que existe de mais excelente para si mesmo, e o homem bom obedece ao comando de seu intelecto” (ARISTÓTELES, 2015 p. 257).

O homem bom é o mais egoísta de todos, esse egoísmo não é prejudicial, mas sim nobre. Não é vulgar, porque seu intelecto é o mestre dele. Ele coloca sempre a si mesmo antes de todas as coisas, não pensando em riqueza, mas sim em as ações conforme a justiça, a temperança, ou qualquer outra virtude. Ele procura reivindicar para si mesmo o que é nobre. Aristóteles o chama de egoísta por excelência.

“Mas é igualmente verdade que o homem bom frequentemente age no interesse de seus amigos e de sua pátria, dando sua vida por eles, pois ele sacrificará sua riqueza, suas honras e, de modo geral, todos os bens que os homens disputam, conservando para si a nobreza das ações, já que poderá, de fato, preferir um breve momento de intenso prazer a um longo período de satisfação tranquila, um ano de vida exaltante a numerosos anos de existência na terra, uma só ação, única e bela, a uma multitude de ações mesquinhas. Aqueles que sacrificam sua vida por outros provavelmente atingem esse resultado; e por isso escolhem, por sua parte, um bem de grande preço” (ARISTÓTELES, 2015 p. 257).

O ato de empreender gera benefícios tangíveis e intangíveis para a pátria: o desenvolvimento do local no qual o empreendimento acontece, a geração de empregos, a oportunidade de mudar a vida de muitas famílias que ali vivem… Muitas vezes o empreendedor da a vida por seu empreendimento e é algo muito maior que lucro, é algo que nem mesmo o empreendedor consegue explicar com suas palavras. Empreender é um ato nobre quando o empreendedor obedece ao comando de seu intelecto, obedecendo ao seu chamado.

Referências:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.São Paulo: Martin Claret, 2015.

BLAUG, M. Economic Theory in Retrospect. Cambridge: Cambridge University Press. 1997.

HÉBERT, R. F.; LINK, A. N. In search of the meaning of entrepreneurship. Small business economics, 1(1), 39-49. 1989.

ROCHA, H.; BIRKINSHAW, J. Entrepreneurship safari: a phenomenon-driven search for meaning. Foundations and Trends in Entrepreneurship, 3(3), 205-255. 2007.

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