O que aconteceu para as Fake News partirem de uma simples notícia falsa que circula nas redes para um conceito com o nome e sobrenome? Como isso se tornou uma pandemia tal qual a que vivemos atualmente? Qualquer indivíduo sabe o que são Fake News – aquelas notícias com manchetes mirabolantes em letras garrafais, as quais noticiam palavras sensacionalistas, ou também aquelas tão sutis e bem escritas, que podem levar o ser humano a acreditar que jacarés voam e vacas latem. Então, fica o questionamento – o que nos trouxe até aqui?
As hipóteses ao dialogar com o passado e entender o presente (ou até fazer uma previsão do futuro) são inúmeras. Diante disso, entende-se que a globalização é um ponto forte para compreendermos esse lugar em que estamos inseridos – um processo de expansão econômica, política e cultural a nível mundial, a qual tem origem no período das Grandes Navegações no século XVI e que no último século se acelerou muito por conta da Terceira Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científico-Informacional) com a ascensão das tecnologias de transporte e comunicação (Politize!, 2017). Nessa perspectiva, a comunicação assistiu evoluções rápidas e surpreendentes – o rádio era o elemento central de informação, assim como o jornal impresso, que depois evoluiu para televisão e em seguida o celular (ele se originou de um “tijolo” sem tela e evoluiu para um aparelho que mostra a temperatura dos dias da semana e permite ligações de vídeo para qualquer lugar do mundo) e sem esquecer que hoje todos esses propagadores coexistem, ou seja, a informação vem em excesso. Dessa forma, existe um conceito chamado “infodemia” – uma epidemia de informações que prejudicam a saúde mental das pessoas e dificultam o processo de tomada de decisão do que é certo e errado, já que cada vez mais o processo de receber uma notícia está doloroso e assustador no cenário de pandemia pela COVID-19.
Ademais, para estarmos em um caos quanto à disseminação de informações falsas e verdadeiras que se confundem umas com as outras, é preciso entender o conceito da pós- verdade, a qual segundo a Academia Brasileira de Letras, tem por definição “Informação ou asserção que distorce deliberadamente a verdade, ou algo real, caracterizada pelo forte apelo à emoção, e que, tomando como base crenças difundidas, em detrimento de fatos apurados, tende a ser aceita como verdadeira, influenciando a opinião pública e comportamentos sociais.” Nesse cenário, esse momento que vivemos criou um ambiente muito favorável para que notícias falsas fossem espalhadas como pestes e ouvidas pelas pessoas, além de se contrapor à ética e demonstrar o desejo dos indivíduos de ter pressa para tudo (também uma herança da globalização), sem excluir as notícias do cotidiano. Por conta disso, existe diferença entre pós-verdade e fake News? Apostamos que esta seja, pelo menos em parte, relacionada aos tempos necessários para que se possa subjetivar a cadeia associativa no sentido de se tornar responsável por ela. Quando o trabalho que constrói uma fake news tem um alcance em massa e é potencializado pelas redes sociais através dos gadgets tecnológicos que levamos no bolso, o tempo é imediato. Além da satisfação do consumo dos objetos, transformados em objetos fálicos, temos também, em relação aos smartphones, uma satisfação de sentido como uma resposta ao sem sentido na palma da mão. Assim, no imediatismo do consumo, o tempo da fake news nos mostra a relação entre a pressa e a verdade (MIRANDA; CALDAS, 2021).
Por conseguinte, observou-se que o fato de as fake News possuírem nome, sobrenome, mercado e artigos sobre adveio de um modelo de sociedade moldado pelo estouro de tecnologias, excessos de informação tão sufocantes a ponto de provocar danos mentais e discursos fundados em emoções e razões pessoais. Desse modo, fica a reflexão do que nos seduz nessas notícias tão bem e mal construídas ao mesmo tempo, do que nos chama atenção e como podemos articular para que as fake News não tenham mais nome, sobrenome e importância.
Referências
MIRANDA, Leonardo Lopes; CALDAS, Heloisa. Considerações psicanalíticas sobre a pós-verdade e as malditas fake news. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 24, n. 3, p. 560-574, set. 2021.
O que é a Globalização? Politize!, 2017. Disponível em: < https://www.politize.com.br/globalizacao-o-que-e/>. Acesso em: 06 de dez. de 2021.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL). Disponível em: < https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/pos-verdade>. Acesso em: 06 de dez. de 2021.
Você sabe o que é Infodemia? Politize!, 2021. Disponível em: < https://www.politize.com.br/infodemia/>. Acesso em: 06 de dez. de 2021.
