As Virtudes e nossas relações

Ao refletirmos sobre a vida, sobre as ações pessoais e nos fatos acontecidos em nossa volta, nos perguntamos o que poderá nos proporcionar uma vida mais feliz, e, frequentemente, pensamos que nossa relações influenciam para esta felicidade, e também, em como a convivência social seria mais fácil e tranquila se as questões morais e a ética fossem preocupações comuns.

Ao pensarmos em ações morais e em teorias éticas surgem algumas questões, tais como: Quanto nossas ações são morais? Qual teoria ética devo seguir? Ações morais e ética realmente irão contribuir positivamente em minhas relações pessoais e profissionais?

Acredito que nossa moralidade deve ser uma preocupação constantemente, uma reflexão incessante de nossos atos, assim como o reconhecimento de quais regras sociais nos permitimos e aceitamos como certa, certamente o quanto nos preocupamos com os outros também é fundamental.  

 Imagino que as diversas teorias éticas nas fazem refletir sobre nossas ações em diferentes perspectivas, assim como sobre as ações alheias. Porém, sempre há aquela que se destaca em algum momento, aquela se torna preferida. As preferências não se dão somente nas escolhas pessoais, que regem nossos convívios com a família e amigos, mas também no âmbito profissional dentro das organizações, através de suas relações e decisões, e não necessariamente elas coincidirão.

Dentre as teorias éticas mais reconhecidas me concentrarei na ética das virtudes que é a que tem chamado a atenção, nos últimos anos, dos estudiosos sobre o assunto. Sempre que penso sobre as virtudes me surgem várias questões, por exemplo: Qual o significado de virtudes? Há algum grau de hierarquia sobre elas? Se há, como defino isso? Temos que preferir algumas e esquecer outras? Se há algumas mais importantes do que outras, como defino as prioridades?

Algum tempo atrás teria listado algumas virtudes como as mais importantes, que seriam aquelas que normalmente escolhemos, como se fosse um senso comum, sem muitas explicações e com pouca profundidade de reflexão. Porém hoje, percebo que algumas das virtudes que foram esquecidas ou simplesmente ignoradas, também são muito valorosas.

Acredito que cada virtude tenha a sua importância, e que muitas vezes não desenvolveremos uma sem a dependência do desenvolvimento de outras. Percebemos que algumas se destacam como se fossem o carro chefe do agir, e talvez o sejam mesmo, como é o caso da phronesis; coragem; honestidade, entre outras. Percebo, agora, que necessitamos pensar não somente na sua importância, mas também em conhecê-las e saber qual priorizar em determinada circunstância.

Imagino como seria bom ter em nossos convívios, mais das virtudes como docilidade, compaixão e amor; com certeza não nos esqueceríamos da justiça, honestidade, integridade, entre outras, mas as complementaríamos.

Quando Aristóteles escreveu sobre as virtudes, se referiu a elas como um “caminho” para chegar ao Bem, a Vida Boa, e a Felicidade. Diferenciou-as entre virtudes da inteligência e as virtudes morais, deixando claro a dependência destas sobre aquelas (MARQUES, 2001). Naquele momento não havia a necessidade de categorizar a utilização das virtudes, como no caso das organizações, porém vivemos num momento diferente, onde as análises e reflexões perpassam por diferentes áreas do conhecimento.  

Hooft (2013, p. 187) coloca que definir uma virtude empregada é um ato complexo, porque é necessário conhecer a intenção do agente, sendo que nem sempre o que vejo (que é o resultado da ação) condiz com o motivo (aquilo que a define). Ele coloca, por exemplo, que distinguir claramente se um ato é de bondade ou de compaixão é muito difícil “[…] a maneira como esculpimos conceitualmente os fenômenos do comportamento humano virtuoso em classificações de virtude específicas é altamente complexa e provavelmente relativa à cultura.” O autor menciona que, diferentemente do grego, a língua portuguesa permite diferenciações sutis, onde uma categoria de virtude permite a existência de subcategorias, como é o caso da integridade que pode significar ações honestas ou reflexões autênticas sobre sim mesmo.

Mesmo com as dificuldades apresentadas, é apropriado sabermos de suas existências e de como é possível melhorar as relações. Só as conhecendo é que poderemos distinguir e escolher as virtudes adequadas a dada situação. E só conhecendo a si mesmo, saber qual são nossas aptidões e fraquezas é que seremos capazes de melhorar nossos convívios, almejando a vida boa, o bem e a felicidade. Afinal de contas, não somos tão diferentes de Aristóteles, todos buscamos viver bem e almejamos a felicidade.   

Klaus Schwab (2016), fundador e diretor executivo da World Economic Forum, mencionou sua percepção sobre a Quarta Revolução Industrial, que ela “[…] mudará não apenas o que fazemos, mas também quem somos.” Mesmo sendo um entusiasta da tecnologia, ele teme que a integração da tecnologia às nossas vidas possa diminuir algumas das capacidades humanas, como a compaixão e a cooperação. Ele coloca que no final de tudo, tudo se resume em pessoas e valores, e admite a possibilidades de que natureza humana seja “robotizada” privando-nos de coração e alma, mas também existe a possibilidade de que sejamos “melhorados” acentuando a criatividade e empatia, elevando a humanidade a uma nova consciência coletiva e moral, cabe a nós decidir o que prevalecerá.

Não sei se dá para afirmar que as virtudes na atualidade são mais importantes do que foram em outros tempos, mas é difícil discordar da sua importância nas relações se quisermos atingir a vida boa e a felicidade.

Referências:

HOOFT, Stan Van. A ética das virtudes. Petrópolis, Vozes, 2013.

MARQUES, Ramiro. O livro das virtudes de sempre: ética para professores. São Paulo: Landy, 2001.

SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial: o que significa, como responder. 2016. World Economic Forum. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-fourth-industrial-revolution-what-it-means-and-how-to-respond. Acesso em: 08 nov. 2019.

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