Pensando a caridade

Frente a um ambiente urbano deveras violento, não somente relacionado a criminalidade, mas também à pressão gerada pelo sistema socioeconômico em nosso cotidiano, percebe-se um padrão de pensamento guiado cada vez mais ao individualismo. Tal fato pode gerar grandes problemas para os indivíduos que dependem do altruísmo do próximo ou de programas governamentais que tratam da desigualdade presente nas camadas sociais.

Para os benfeitores que dispõe seus recursos (algo valoroso, seja um ato de carinho ou a doação de determinado bem) aos mais necessitados cabe uma indagação: o que está movendo tal ato? Simples egoísmo, no sentido de promover uma sensação de realização pessoal por “fazer o bem”? A ação como fim nela mesma, como princípio da consciência empática? Ou, a imagem do “bom moço”, aquele que busca sua promoção pessoal? Antes de nos propormos a refletir sobre tal questão, é possível buscarmos auxílio na área de estudo da ciência da Psicologia. Levando em conta as teorias do desenvolvimento moral iniciadas por Jean William Fritz Piaget e desenvolvida por Lawrence Kohlberg, autor este que criou o conceito de competência moral, sendo ela a capacidade de tomar decisões e de trazer a luz análises morais internas ao indivíduo, sendo elas o guia das concepções de justiça e das ações humanas.

Em sua pesquisa, a dimensão ética não é mera internalização de valores morais do grupo social, tais quais os possíveis fomentadores do individualismo. Seus estudos indicam a existência de princípios básicos universais, tais como o respeito à vida humana, a empatia, que são apreendidos e desenvolvidos ao longo do tempo. A luz dos níveis e estágios do desenvolvimento moral encontrados na pesquisa de Kohlberg, penso que, talvez, os atores que realizam ações de caridade (dos mais variados graus possíveis) possam ser enquadrados em dois diferentes níveis e em estágios pontuais, na qual, se relacionam com a questão levantada anteriormente. Desse modo, no nível convencional o indivíduo pode mostrar-se orientado pela simples aprovação ou destaque dentro de um grupo social, caracterizando o estágio do hedonismo instrumental, marcado pelo egoísmo; já no nível pós-convencional, onde o valor das ações está no objetivo à qual corresponde – a promoção do bem estar do próximo -, o indivíduo é guiado pelo sentimento da empatia, sente-se no dever de oferecer algum auxílio à quem necessita.

Outrossim, destaco que os atos de caridade em si já são de extrema importância, tomando a busca do sentido gerador como uma forma de auto-análise e reflexão sobre os princípios e virtudes que nos guiam no decorrer de nossas vidas.

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