As virtudes em J. R. R. Tolkien

John Ronald Reuel Tolkien (mais conhecido por J. R. R. Tolkien) é um dos meus autores preferidos. Compartilho com este autor a data de aniversário, dia 03 de janeiro, e esta coincidência para mim é uma grande honra, tendo em vista a minha admiração tanto por sua vida quanto por sua obra. Para fechar o mês do nosso aniversário (!), resolvi escrever este texto sobre o que considero uma das maiores riquezas do seu legado literário: a ênfase nas virtudes. 

Um dia desses li no prefácio de um livro1 que a qualificação do autor para escrever sobre Tolkien era seu amor pelo sujeito, pois ao compartilhar o amor por uma pessoa é possível fazer com que outros possam também aumentar sua apreciação. Hoje, se o texto for curto demais para atingir este objetivo, que pelo menos eu possa despertar em quem o leia uma fagulha de curiosidade para entrar mais a fundo na Terra Média2 e em outras obras do universo deste autor, a fim de entender como estes livros superam a fantasia para serem mais reais que imaginamos.

J. R. R. Tolkien foi um escritor, filólogo e professor universitário. Para alguns, é um dos pais da literatura fantástica e, para amantes da ficção, é o criador dos sucessos do cinema “O Hobbit” e a trilogia “O senhor dos anéis”. No entanto, este autor publicou mais de 40 obras, além de ilustrar a traduzir outras. Ele criou universos completos, personagens icônicos, línguas com alfabeto e escritas próprias e mitologias que, segundo Purtill (2003), fazem parte de um mito literário que se aproxima o máximo possível nos nossos dias do mito original. O mito em Tolkien é uma forma de expressão artística, apesar de incorporar a verdade e a moral, além de expor valores religiosos subjacentes, mesmo que ocasionalmente.

Os mitos possuem como função a transmissão de valores morais (Purtill, 2003); e, em Tolkien, é possível ver o Bem e o Mal como opostos, temas bíblicos entrelaçados nas histórias e, a meu ver, o mais importante: o triunfo do Bem sobre o Mal. Esta luta é feita por pessoas comuns, quase insignificantes (os hobbits), que ao lutar com seus próprios fracassos demonstram coragem, lealdade e obediência (Akhtar, 2019). Tolkien nos deu um herói que falha, mas no final persevera pela sua disposição de se arriscar por outras pessoas. A motivação original é a lealdade e o amor aos amigos. Dessa forma, além de ser sutil e profundamente ligada á vida real (Purtill, 2003), sua obra prima é essencialmente uma história da luta entre as forças do bem e do mal e o ingrediente para a batalha são as virtudes.

As pessoas são os únicos seres com livre arbítrio para escolher que tipo de vida querem ter, boa ou má, através de seleções graduais, tanto pequenas quanto grandes, ao longo de toda a vida. Ser bom, ou virtuoso, pode acontecer pelo aprendizado, hábito, pela natureza (as pessoas nascem boas) ou de alguma outra forma como contra a natureza ou por força. A maior parte dos filósofos assume uma ou mais destas maneiras, porém quem tem crianças, como afirmado por Markos (2012), sabe que existe uma outra forma: pelo exemplo ao se adotar heróis morais. A educação moral acontece de forma poderosa através de histórias e ler boa literatura, assim como conhecer e se relacionar com pessoas, é um método efetivo para o desenvolvimento pessoal.

            Nesta lógica, Tolkien nos mostra que os heróis e a boa literatura podem ser uma forma de aprendizado não só para as crianças. Apesar de seu universo fantástico colocar os seres humanos em protagonismo dividido com hobbits, anões, elfos e dragões, a obra deste autor, por meio das virtudes, é muito mais real que imaginamos. Vivemos em uma sociedade embebida no relativismo e existencialismo, na qual essas visões, respectivamente nos tirou os padrões transcendentes e esvaziou a vida de um significado, propósito ou direção superior (Markos, 2012). No entanto, Tolkien nos devolveu um propósito e nos ensina a reavaliar o Bem e o Mal, usando como ferramenta a virtudes para o caminho do viver bem.

1 O livro que menciono é “J. R. R. Tolkien: Myth, Morality, and Religion” escrito por Richard L. Purtill.

2 Terra Média é a terra fictícia criada por J. R. R. Tolkien. Embora pareça outro mundo, o autor a concebeu como a nossa Terra, 600 mil anos antes do nosso tempo. A história da Terra Média é dividida em Eras e os livros mencionados neste texto se passam no fim da Terceira Era.

Referências

Akhtar, Md Selim. J. R. R. Tolkien’s fantasy fiction “The lord of the rings”: a study of moral victory over evil. Research Journal of English Language and Literature, 7, 1, 2019.

Markos, Louis. On the shoulders of Hobbits: the road to virtue with Tolkien and Lewis. Moody Publishers. 2012.Purtill, Richard. J. R. R. Tolkien: Myth, Morality, and Religion. São Francisco: Ignatius Press, 2003.

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