Os mais velhos como símbolo de autoridade moral no continente africano. Parte 1

Começo com a frase/ditado Africano segundo qual “Em África, quando morre um “mais velho” é uma biblioteca que se queima”

Falar sobre moral, moralidade, ética e sabedoria no continente Africano na maioria das vezes é sinônimo de falar de mais velho, adulto ou pessoa de idade. Isto acontece de forma natural e os mais jovens introjetam a mesma percepção, sem mesmo questionar de onde isso provém e porque isto acontece. Nesta senda vamos explorar alguns ditames acerca e tentar explicitar as possíveis justificativas a partir de falas dos próprios mais velhos ou atribuídas a eles com o fito de entendermos o desdobramento do mesmo. Para tal analise utilizaremos dois argumentos/justificativas.

  1. Os conhecimentos e saberes no continente Africanos são passados através da oralidade

Uma boa parte das culturas africanas está baseada na tradição oral, a mesma ocupa um espaço pertinente na maneira que os povos enxergam e se enxergam no mundo, ou seja, a sua cosmovisão está imbuída e é percebida com e através da oralidade. Para entendermos melhor trarei exemplos.

Segundo Amaro (HÂMPATÉ, 2010), a tradição Bambara do Komo ensina que a palavra, Kuma, é uma força fundamental que emana do próprio Ser Supremo, Maa Ngala, criador de todas as coisas. Ou seja as palavras não se constitui como meramente uma entoação através do qual podemos transmitir uma mensagem, mas é e sobretudo um elemento essencial de elo entre Deus e os homens.

2. Os mais velhos são as nossas bibliotecas vivas

Os mais velhos são considerados os sábios nas sociedades Africanas, por que os mesmo por terem vivido vários anos, se entende que os sujeitos sejam depositários da herança oral e dos saberes produzidos ao longo da sua vida.

Dependendo da sociedade Africana os mais velhos vão ser chamado de vários nomes. No Mali são chamados de Doma ou Soma, “Conhecedores”, já os povos fulini chamam os mesmos de Silatigui, Gando Tchiorinke, “Conhecedores”. Em Angola a depender do povo também vai ganhando nomes diferentes, Soba, “ Autoridade Tradicional”, ou o termo Kota “Alguém mais velho ou Irmão mais Velho”, em Moçambique, chamam de Madoda “Uma pessoa de Idade”.

Os dois argumentos supracitados em sentido mais ampla nos ajudam a perceber a relevância destes sujeitos na sociedade e os mesmos são responsáveis pela resolução de conflitos nas sociedades e principalmente no interior dos países do continente Africano. São considerados os conhecedores mais experientes e os conselheiros. São considerados autoridades morais por que eles devem estar imbuídos de um senso de responsabilidade e comprometimento com a sociedade, devem ser um sujeito que defende os valores, princípios e a ética da coletividade. Por isso se justifica a afirmativa no qual em África quando um mais velho perece, se perdi muitas coisas, e acrescento que não se perdi simplesmente uma biblioteca viva, como também um sujeito que nos proporciona as vivências de espaço de saber como o JANGO (Normalmente lugar em baixo de árvores).

Frases para Pensar

Na boca de um mais velho pode faltar dentes, mas nunca faltarão palavras conscientes (sábias) ” – Provérbio Kikongo

 “Quando um rei tem bons conselheiros, seu reinado é pacífico.” – Provérbio Ashanti

Referências

HAMPATÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed – Brasília: UNESCO, 2010.

      AMARO, Rolf. Resumo de História Geral da África – A Tradição Viva.

Site Pensador. Link de acesso (2021): https://www.pensador.com/frase/MTg1MDg5OA/

Nome das personalidades que estão na imagem (Da direta para esquerda):

Paulina Chiziane  – Escritora Moçambicana

Amadou Hampaté Bâ – Escritor Maliano

Autora Desconhecida –  Vovó Angolana

Nomes Desconhecidos –  Guiné Conacri e Mali

Pepetela – Escritor Angolano

Cheikh Anta Diop – Historiodor, antropólogo, físico e político Senegalês.

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