Princípios da Ética da inteligência Artificial (IA) e a Ética das Virtudes

A Ética da Inteligência Artificial (IA) faz parte do campo de ética digital (Hanna & Kazim, 2021). Ela procura fornecer diretrizes de ação no design e uso de autômatos artificiais ou máquinas artificiais, formulando e seguindo racionalmente princípios ou regras que refletem nossos compromissos individuais e sociais e nossos ideais e valores mais importantes (Hanna & Kazim, 2021).

Embora o termo mais comumente usado seja sistemas de inteligência artificial, o termo sistemas de decisão automatizados (SDA) tem sido adotado, considerando suas características tecnológicas, como no Algorithmic Accountability Act de 2022, proposto no Congresso dos EUA (Mökander & Floridi, 2022). A base da inteligência de IA é software: um algoritmo ou uma combinação de algoritmos (Coeckelbergh, 2020), que processam informações e foram criados por humanos para fins determinados por humanos (Hanna & Kazim, 2021). 

A preocupação com os impactos éticos da IA, bem como a discussão sobre sua aceitação pela sociedade, contribuíram para o surgimento de diferentes frameworks para a aplicação de princípios éticos, distribuídos em três grupos principais: (1) ética pelo design (ethics by design), que propõe integrar rotinas de decisão ética aos sistemas de IA; (2) ética no design (ethics in design), que propõe métodos de desenvolvimento que suportam uma avaliação das implicações éticas; e (3) ética para design (ethics for design), que procura assegurar a integridade por parte de seus desenvolvedores (Hagendorff, 2022). Tais abordagens são fundamentadas em princípios recomendados por estudiosos da ética da IA. Entre os princípios mais articulados na Ética da IA estão a justiça, responsabilidade, explicabilidade, transparência, privacidade e segurança, e o bem comum, entre outros (Hagendorff, 2020). Notadamente, tais princípios são relevantes para orientar o desenvolvimento, uso e impactos da IA. Por outro lado, eles assumem uma característica mais abstrata e podem representar um desafio para sua consideração nas decisões e ações dos profissionais da área (Rochel & Evéquoz, 2021). Segundo Rochel e Evéquoz (2021), existe um desequilíbrio na literatura entre a atenção dada à recomendação de princípios (o quê) e como operacionalizá-los (como). 

Na prática, quando se procura responder “como”, a Ética da IA requer a consideração de aspectos da realidade que não são muito previsíveis, como a dependência do contexto no processo de realização de códigos de ética, diferentes requisitos para diferentes partes interessadas, bem como a demonstração de formas de lidar com princípios ou valores conflitantes, por exemplo, no caso de justiça e acurácia (Hagendorff, 2022). Com base nisso, um framework ético, como a ética da virtudes, pode ser contributivo. 

De acordo com Hagendorff (2022), as virtudes são a pré-condição para colocar princípios éticos em prática e podem ajudar a acessar as implicações éticas do uso em larga escala da IA, em seu aprendizado a partir de dados e nas mudanças que ela traz na interação humano-computador. 

References

Coeckelbergh, M. (2020). AI Ethics. The MIT Press Essencial Knowledge Series. Cambridge, MA: The MIT Press.

Hagendorff, T. (2020). The Ethics of AI Ethics: An Evaluation of Guidelines. Minds and Machines, 30:99–120 https://doi.org/10.1007/s11023-020-09517-8

Hagendorff, T. (2022). A Virtue-Based Framework to Support Putting AI Ethics into Practice. Philosophy & Technology, 35-55, 1-24. https://doi.org/10.1007/s13347-022-00553-z 

Hanna, R. & Kazim, E. (2021). Philosophical foundations for digital ethics and AI Ethics: a dignitarian approach. AI and Ethics, 1, 405-423. https://doi.org/10.1007/s43681-021-00040-9

Mökander, J., Floridi, L. (2022). From algorithmic accountability to digital governance. Nat Mach Intell (2022). https://doi.org/10.1038/s42256-022-00504-5 

Rochel, J. & Evéquoz, F. (2021). Getting into the engine room: a blueprint to investigate the shadowy steps of AI ethics. AI & SOCIETY, 36, 609–622. https://doi.org/10.1007/s00146-020-01069-w