Diante da pretensão maior de explicar o que a administração é, eu e meu parceiro de estudos, o professor Paulo Grave, temos sido conduzidos, em razão de uma circularidade discursiva proposital e imperiosa na construção de um argumento-resposta, à elaboração de um discurso sobre determinado objeto complexo – a organização – que corresponda à conveniência da administração in stricto sensu. Dizendo de outra forma, nossa inquirição relativa à administração nos tem demandado formular uma explicação do fenômeno da organização, explicação essa que atenda à exigência do estudo de um objeto cultural que, segundo pensamos, é e deve ser o âmbito próprio da administração.
Nesse sentido, lançamos mão da questão ontológica fundamental: organização, o que é isso? Para respondê-la, temos estudado determinados elementos que, atualmente, já nos permitem a formulação preliminar de uma tese de cunho deontológico: a organização é/deve ser um instrumento social no modo de vida prática, uma micro-sociedade produtiva, uma oikos contemporânea estendida, em que a atividade de produção de bens úteis ao homem se torna efetiva, coletivamente, proporcionando ao homem as condições necessárias, suficientes e convenientes para que o mesmo almeje a vida boa.
É importante dizer que a arquitetura desse argumento-tese toma por base o pensamento aristotélico e de alguns de seus seguidores sobre os modos ou gêneros de vida, as atividades humanas essenciais e a questão teleológica para a qual se voltam. Além disso, está ancorada em uma revisão crítico-sistemática a respeito do que tem sido historicamente dito sobre a organização, bem como em nossa percepção direta da realidade administrativa contemporânea. Assim procedemos porque julgamos importante configurar tipo organizacionais que possam corresponder à ação do agente que caracterizamos como administrador – um agente virtuoso.
Disso tem resultado um movimento de estudo e pesquisa que nos tem feito visualizar a possibilidade de transcorrer de uma ontologia a uma deontologia organizacional. Ora, se a administração é o que julgamos ser – a ação virtuosa de um agente virtuoso –, ela o é em um âmbito do deve ser. Ou seja, essa organização é o âmbito relacional humano em que a administração se presentifica, não por um acaso ou modo qualquer, mas porque a administração assim exige que aquele âmbito seja de determinado modo, no caso, um instrumento social da vida prática para o bem viver humano. Dessa maneira, a nossa defesa é que, administrativamente falando, a organização só faz sentido se corresponder a um dever ser reclamado, uma vez que a administração sendo, asseguraria o deve ser que a organização seria para ela.