Tecnologia nova, dilemas antigos: como a inteligência artificial está trazendo à tona clássicas discussões filosóficas

Em 1956, na Conferência de Dartmouth, John MacCarthy cunhou o termo inteligência artificial (IA) em conjunto com outros proeminentes autores: Marvin Minsky, Herbert Simon e Allen Newell. A origem da IA se beneficiou da intersecção de dois importantes desenvolvimentos intelectuais da época, a revolução cognitiva e a teoria da computabilidade, e trouxe do imaginário para a prática o antigo sonho de criar autômatos. Neste ambiente de otimismo, Herbert Simon previu que máquinas pensando como humanos seria uma realidade prestes a acontecer.

De fato, poucos anos depois, em 1959, o programa que jogava xadrez de Arthur Samuel mostrou que máquinas podiam aprender. Depois disso, veio o machine learning, redes neurais, computação cognitiva, robótica, entre outros. No entanto, o progresso está sendo muito mais lento do que o esperado, pois viramos o século e a inteligência artificial ainda pouco se parece com a inteligência humana.

Curiosamente, na celebração de 50 anos da conferência seminal em Dartmouth, Jim Moor questionou se a IA pensando no nível humano seria possível nos próximos 50 anos. Cinco participantes do encontro original estavam lá, mas otimismo não foi consenso desta vez. MacCarthy e Minsky afirmaram que sim, enquanto os outros foram enigmáticos ou negativos.

Mesmo assim, inteligência artificial afeta praticamente todos que utilizam tecnologias modernas, inclusive em decisões cruciais, como as feitas por carros autônomos, aparatos militares, robôs na medicina e algoritmos que definem promoções no trabalho, operações financeiras e quem é apto ou não a um empréstimo imobiliário.

O problema é que séculos de estudo ainda não foram suficientes para desvendar todas as nuances da nossa inteligência, quem dirá replicá-la. Temos uma tecnologia ainda em desenvolvimento, mas estamos entrando em uma segunda era das máquinas em que nossa capacidade mental está sendo substituída (a saber, na primeira foi a força muscular). Silenciosamente, algoritmos estão decidindo nossas vidas e a forma como interagimos e florescemos também está sendo influenciada.

Desde sua concepção, a IA demonstrou ser muito mais que um campo da computação, pois, para criar máquinas que pensam como humanos, os cientistas tiveram que a retornar a antigas discussões sobre o que é inteligência, perpassando por assuntos como racionalidade, intelecto, pensamento, cognição e tomada de decisão. Além disso, toda a discussão sobre ética levava em conta máquinas como instrumentos. Agora que máquinas tomam as decisões, devemos considerá-las sujeitos morais ou agentes morais? Nossas teorias éticas são o suficiente para uma realidade de coexistência entre IA e humanos ou precisamos de novos modelos? As máquinas, algum dia, terão inteligência comparável à nossa?

Os questionamentos são intermináveis, mas a certeza é que a IA está se tornando cada vez mais poderosa e a busca por respostas pela tentativa e erro pode trazer consequências desastrosas.

Referências:

Brynjolfsson, E. & McAfee, A. (2016), The second machine age: Work, progress, and prosperity in a time of brilliant technologies. New York: W. W. Norton.

Frankish, Keith (ed.), The Cambridge Handbook of Artificial Intelligence (pp. 316-334). Cambridge University Press.

Martin, K.(2019). Ethical Implications and Accountability of Algorithms. Journal Business Ethics 160,835–850. doi:10.1007/s10551-018-3921-3.

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