Diante da natureza – admiração e humildade

Quais são as virtudes exercidas na experiência de imersão no ambiente natural?

Aqueles que admiram a natureza costumam usufruir de experiências estéticas e recreativas ao estar imerso nela. Se pararmos para analisar, o ambiente natural oferece oportunidades de desenvolvimento físico, intelectual, moral e espiritual. Seja com a prática de esportes, leituras, ou pela observação de sua complexidade, da beleza única contida nos seres vivos em interação na busca pelo florescimento de suas potencialidades, estar no ambiente natural tende a elevar nossa experiência do físico ao metafísico, exercitam as virtudes da contemplação intelectiva e sabedoria. Essa é a imagem análoga a um lindo pôr-do-sol em meio as montanhas escarpadas de uma serra esculpida pela natureza, entre vales, veios d’água refletidos na luz dourada, a admiração.

E se uma cabeça d’água – inundação repentina de um rio devido a chuvas recebidas em trechos mais altos de seu percurso – inundasse aonde você contempla o entardecer, levando tudo ao longo de seu caminho e colocando sua vida em risco … seria essa natureza crua, bruta, diferente da primeira imagem sublime? Situações como essa trazem à tona nosso tamanho, a magnanimidade, o respeito que devemos exercer diante dos fenômenos da natureza, a humildade.

Assim percebemos faces que se complementam. Ao mesmo tempo que a natureza é fonte básica de recursos, de conhecimento, recreação, revigoramento e experiências espirituais, ela também é uma ameaça constante, indiferente a nós e independente de valores humanos. Essa complexidade relacional pede por uma ética robusta, alicerçada na experiência, tal como a ética das virtudes pode fornecer (SANDLER, 2017).

Rachel Carson, Henry Thoreau e Aldo Leopold, influentes autores que discutem a relação ser humano e ambiente natural parecem concordar que as virtudes da admiração e humildade acessam a essência do fenômeno. Além dessas virtudes, a temperança, simplicidade, perspicácia e conexão são exercidas na comunhão com o natural. (WENSVEEN, 2000).

Contudo, esses benefícios são mais acessados por uns do que por outros. Por exemplo, pessoas com traços de admiração, humildade e amor pela natureza obtém dela com mais frequência estímulo, renovo, conhecimento e bem-aventurança. Já uma pessoa com traços de arrogância, preguiça e indiferença à natureza costuma não obter esses benefícios, uma vez que está menos disposta a sair para a natureza, apreciar, estudar e refletir envolto nesse ambiente.

Sendo assim, a busca pela admiração e humildade nos faz vivenciar de forma virtuosa da tempestade em alto mar até florescência inocente de toda uma montanha no primeiro sol de primavera. Cabe a nós o cultivo da percepção de que a relação humano-natureza se dá na inter-relação e coincidência do florescimento humano em harmonia com o movimento e da natureza (CAFARO, 2001).

Referências:

CAFARO, Philip. Thoreau, Leopold, and Carson: Toward an environmental virtue ethics. Environmental ethics, v. 23, n. 1, p. 3-17, 2001.

SANDLER, Ronald L. Environmental Ethics: Theory in Practice. New York: Oxford University Press, 2017. Capitulo 10 “Character Ethics: Virtue, Vice and the environment”.

VAN WENSVEEN, Louke. Dirty virtues: The emergence of ecological virtue ethics. 2000.

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