Ética e Tecnologia – Parte 1

Existe um senso comum do que é a tecnologia, e embora não esteja equivocado em sua totalidade, não reflete a profundidade e complexidade que abrangem suas definições – que por sinal estão longe de alcançar consenso. As primeiras associações à tecnologia remetem a dispositivos de “última geração”, carros e construções modernas, entre outros. De acordo com Heidegger, a tecnologia é uma maneira de saber, de descobrir a natureza oculta das coisas. Para os autores Bigelow(1829) e Ropohl (1992) a “tecnologia” não denota somente um domínio da atividade humana (como criar ou projetar),ou um domínio de objetos (inovações tecnológicas, como painéis solares), mas um domínio do conhecimento.

A tecnologia é, então, a forma onde o ser humano encontra meios e maneiras de realizar sua existência, é o sinal da reação humana ao seu ambiente ao não se resignar ao mundo como ele é. Ou seja, a tecnologia é a reação do homem sobre a natureza ou diante das circunstâncias. Para Ortega y Gasset (1995), a tecnologia passa por dois estágios distintos: 1. O desejo inventivo ou criativo que define um programa ou atitude em relação ao mundo que o homem deseja realizar, de acordo com suas necessidades; e 2. A realização material desse programa por meio de certas técnicas.

Considerando os aspectos que envolvem os processos tecnológicos na atualidade, cabe questionar quão éticos estes são. Embora assumindo distintas formas e múltiplas atuações, a tecnologia e seus processos estão presentes em cada dimensão da vida humana, cabendo então refletir se seu desenvolvimento respeita o ser humano e sua individualidade. O insistente apelo à neutralidade da tecnologia é um dos resultados da constante esquiva das implicações éticas no campo tecnológico; sabendo-se que o uso da tecnologia não é moralmente neutro. Dois grandes pensadores – o filósofo alemão Hans Jonas (2015) e Jacques Ellul (1964) trabalharam a relação existente entre a ética e tecnologia sob duas distintas e interessantes perspectivas.

É fato que novos tipos e novas dimensões de ações requerem uma atitude ética, assim sendo, a Heurística do Medo, de Hans Jonas (2015), considera sempre as piores consequências de um empreendimento tecnológico, ou seja, o filósofo ponderou que o sentimento de temor resulta numa atitude prudente diante das constantes inovações tecnológicas, tendo por objetivo evitar prognósticos desfavoráveis ao ser humano. Jacques Ellul (1964) abordou a Ética do Não-Poder, onde propôs a limitação voluntária do poder da técnica e tecnologia.

Toda prática de ética deve se concentrar na situação factual, de forma que a dimensões moral e ética não podem mais ser isoladas dos demais aspectos da existência humana. De acordo com Langdom Winner, os engenheiros estão convencidos de que a tecnologia é neutra e que os mesmos, de certa maneira, se orgulham de sua incapacidade ou indisposição de falar sobre preocupações éticas. O autor finaliza acrescentando que nenhum estudante inicia a vida letiva com o propósito de construir bombas de hidrogênio, aprender métodos que ensinam técnicas de produção de carcinógenos ambientais ou ainda, ajudar empresas automobilísticas a decidir se se é rentável substituir tanques de gasolina que explodem com o impacto. Nenhum dos estudantes entram numa faculdade de engenharia afirmando objetivos como esses. Porém, o que acabam fazendo quando saem a procura de emprego?

A tecnologia e seu alcance são amplos, e cada aspecto de seu desempenho merece atento olhar sob a perspectiva ética. Embora com resultados úteis e facilitadores ao ser humano, muitas das consequências do que foi produzido até aqui tem sido prejudicial à sua integridade. Cabe, contudo, dar prosseguimento na discussão e encontrar possíveis soluções éticas aos empreendimentos tecnológicos de tal forma que haja responsabilidade, coerência e prudência em cada uma de suas etapas.

Referências:

BIGELOW, J. 1829. Elements of Technology, 2nd ed. Boston: Hilliard, Gray, Little & Wilkins.

ELLUL, J. The technological society. New York: Alfred Knopf, 1964.

JONAS, H. O Princípio Responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2015.

ROPOHL, G.: 1992, Philosophy of Technological Education, in Blandow/Dyrenfurth, 74–79.

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