Pode alguém ser prudente sem ser virtuoso?

Na ética das virtudes, a prudência tem um papel essencial para hábitos virtuosos. Tem se afirmado que a prudência é necessária para o exercício de virtudes morais. A relação entre prudência e virtudes morais tem sido definida como de interdependência, interrelação. E abordagens clássicas consideram a prudência como a virtude mãe, aquela que funciona como uma condutora das demais.

No entanto, alguém que seja aparentemente sagaz ou que seja astuto (cleverness), mas que não é inclinado para ser corajoso, justo, resiliente ou temperante, pode ser considerado prudente? Dito em outras palavras, alguém pode ser prudente sem virtudes morais? Aristóteles afirma que alguém que não é virtuoso não pode ser prudente. Gostaríamos de nos aprofundar no entendimento da dependência que a phronesis tem em relação às demais virtudes morais, algo pouco abordado, apesar da extensão dos estudos sobre o tema da practical wisdom (Bachman, Habisch & Dieskmeier, 2017).

O problema prático é que pouco se tem discutido na implicação para a ética dos negócios quando as pessoas são astutas, mas sem virtudes, bem como as implicações teóricas de não distinguir as ações astutas (sabedoria prática sem dimensão moral) das ações plenamente virtuosas, isto é, embasadas na combinação virtudes morais-phronesis à luz dos fundamentos da ética das virtudes.

Por exemplo, um empreendedor experiente pode entender com mais facilidade seu contexto de negócios, as necessidades dos consumidores e suas próprias circunstâncias pessoais. Mas diante de uma nova oportunidade de negócio, em que há grande incerteza sobre os resultados futuros, risco, volatilidade e potencial, o que um empreendedor astuto faria? E o que um empreendedor virtuoso faria? Por que há uma grande possibilidade de a ação de cada um ser diferente?

Teriam esses perfis de empreendedores uma imaginação moral diferente a ponto de agirem de forma distinta? Em que medida a virtude da coragem, da temperança e da fortaleza poderiam levar a uma ação distinta por parte do empreendedor virtuoso? Qual é a relevância para tal ação do propósito (telos) de cada empreendedor? Eles veem sua decisão imersas nas relações sociais e, por isso, consideram os impactos que suas escolhas são capazes de representar para o bem comum? São perguntas que buscamos compreender por meio das pesquisas e reflexões desenvolvidas no grupo de pesquisa Admethics.

Referências:

Aristotle. (1999). Nicomachean ethics (T. Irwin, Trans.). (2nd ed.). Indianapolis: Hackett Publishing Co.

Bachman, C., Habisch, A. & Dierksmeier, C. (2017). Practical Wisdom: Management’s No Longer Forgotten Virtue. Journal of Business Ethics, 153, 147–165. https://doi.org/10.1007/s1055 1-016-3417-y

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