Reflexões Sobre Corrupção

A corrupção é um problema tão popular quanto antigo, presente em todos
os países, ricos e pobres, mas que pode ter diferentes sentidos ao longo do
tempo e conforme o local onde se manifesta. Tomando o caso do Brasil, é comum
observar na mídia, nas redes sociais ou no discurso das pessoas, diferentes fatos
sendo tratados como corrupção, o que suscita questões como: desonestidade é
sinônimo de corrupção? Ela tem o mesmo significado na esfera pública e na
esfera privada? Quem é corrupto e quando? Além disso, o juízo com relação às
práticas consideradas corruptas no Brasil mudou ao longo do tempo…

Originada do latim corruptio, a palavra corrupção geralmente é aplicada no
sentido de decomposição (física) ou de degradação (moral) de algo (MICHAELIS,
2017; FERREIRA, 2008). Atribui-se aos antigos filósofos gregos, sobretudo a
Platão e Aristóteles, a noção de corrupção numa perspectiva moral, porém a
acepção política do termo ocorre a partir de Maquiavel. Na política, a corrupção
passou a ser entendida, desde então, como “resultado das regras do mundo
político, estando ligada a fraqueza de suas leis e instituições políticas e,
portanto, sob tais regras deve ser julgada” (SACRAMENTO; PINHO, 2009, p. 2).

Contudo, não se pode falar de corrupção sem a devida contextualização do
conceito, no tempo e no espaço, para uma melhor compreensão do seu significado.
“Conceitos carregam suas próprias datações e a transposição no tempo traz
consigo mudanças evidentes de sentido” (SCHWARCZ, 2008, p. 227). Aquilo que
é considerado corrupção numa região do mundo pode não sê-lo em outra,
conforme abordagem da sociologia econômica (GRANOVETTER, 2006). O
reconhecimento de uma prática como corrupção também pode mudar conforme a
visão, o conhecimento e o interesse de quem julga (AVRITZER et al., 2008). Por
outro lado, as práticas de corrupção podem ter diferentes origens e formas de
perpetuarem-se, o que tem sido fonte de diversas pesquisas. Sob uma importante
perspectiva econômica, a da escolha pública (BUTLER, 2015), a origem da
corrupção pode estar no autointeresse dos agentes quando estes desviam o foco
do interesse público para o privado, e esta é outra forma de analisar o problema.

Pesquisas diversas são realizadas em torno do tema, buscando
compreender seus diferentes aspectos. Souza, Silva e Gomes (2017) buscaram                                                    responder como a corrupção na administração pública vem sendo debatida na
literatura internacional. Utilizaram análise de conteúdo e revisão sistemática da
literatura, analisando 211 produções internacionais entre artigos teóricos e
empíricos que tratam da corrupção em 141 países. Os resultados apontaram para
um campo de estudo em crescimento, com diversidade de métodos e técnicas de
pesquisa, divididos entre estudos qualitativos e quantitativos. Os temas em
destaque são as reformas contra a corrupção no mundo; as causas e
consequências da corrupção; e as formas de medir corrupção. Sacramento e
Pinho (2009) buscaram caracterizar a produção acadêmica brasileira em
administração pública referente à corrupção, a partir de teses, dissertações e
artigos científicos produzidos no período de 1997 a 2008, considerado um
período de crescimento de estudo do tema. E constataram que a corrupção é
muito pouco investigada pelos scholars de administração pública no Brasil, sendo
que a literatura estrangeira predomina no referencial teórico.

Este texto é parte de um ensaio que escrevi sobre corrupção, área em que
estarei focando meus estudos no doutorado em administração pública. Há muito o
que se dizer sobre o assunto – maneiras diferentes de se perceber o tema
através da literatura acadêmica, das estatísticas, das notícias que recebemos a
cada dia, de cinema, arte e literatura. O tema é importante para os estudos
organizacionais, particularmente no campo da ética, visto que trata-se de um
problema que abrange as organizações públicas e privadas, “degradando-as” no
longo prazo, assim como afeta a sociedade onde essas organizações estão
inseridas. A Operação Lava-Jato está aí para reafirmar isso a cada dia no Brasil,
o que nos causa um misto de esperança num futuro melhor e de completa certeza
de que algo vai muito mal na sociedade e nas organizações que construímos. Dessa
forma, em meus próximos textos estarei abordando diferentes aspectos sobre a
corrupção. Acompanhe!

Referências:

AVRITZER, Leonardo et al. Introdução. In: AVRITZER, Leonardo et al. (Org.).
Corrupção: ensaios e críticas. Belo Horizonte: UFMG, 2008. p. 11-19.
BUTLER, Eamonn. Escolha pública: um guia. Belo Horizonte: Estudantes pela
Liberdade, 2015.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Corrupção. In: Miniaurélio: o
minidicionário da língua portuguesa. 7. ed. Curitiba: Positivo, 2008.

GRANOVETTER, Mark. A construção social da corrupção. Política & Sociedade,
n. 9, p. 11-37, out./2006.

MICHAELIS. Corrupção. In: Dicionário brasileiro da língua portuguesa. Editora
Melhoramentos, 2017. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2017.

SACRAMENTO, A. R. S.; PINHO, J. A. G. de. A produção acadêmica brasileira
sobre corrupção em administração pública: um estudo no período compreendido
entre 1997-2008. In: ENCONTRO DA ANPAD, XXXIII, 2009, São Paulo. Anais
do Enanpad. São Paulo: ANPAD, 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2017.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Corrupção no Brasil Império. In: AVRITZER, Leonardo
et al. (Org.). Corrupção: ensaios e críticas. Belo Horizonte: UFMG, 2008. p. 227-
236.

SOUZA, F. J. B.; SILVA, S. A. M.; GOMES, A. O. Corrupção no setor público:
considerações a partir da literatura internacional. In: ENCONTRO DA ANPAD,
XLI, 2017, São Paulo. Anais do Enanpad. São Paulo: ANPAD, 2017. Disponível
em: . Acesso
em: 20 nov. 2017.

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