A virtuosidade nas forças de caráter

Sempre que algum escândalo como a corrupção de membros de algum órgão público ou um escândalo financeiro advindo de alguma empresa ocorre, questões acerca da ética emerge novamente ao debate público. Falta de caráter, falta de virtude, empresa antiética, etc, são questões debatidas, mas que muitas vezes ficam sem solução.

Mas afinal, o que de fato são esses conceitos? Ser virtuoso seria a mesma coisa que ter caráter? O que significa ter caráter?

Em 2007 os pesquisadores Thomas A. Wright e Jerry Goodstein buscaram caracterizar o que seria ter força de caráter e qual a sua relação e diferenciação com a virtude. Para esses pesquisadores, definir caráter não é uma coisa tão simples como se pensa e que sobre este assunto, diversos estudiosos já haviam se debruçado ao longo de quase um século. Wright e Goodstein descrevem que muitas vezes “ter força de caráter” e “ser virtuoso” são usados como termos intercambiáveis e que assim, causam confusão em razão de sua não conceptualização correta.

Virtude é um tema já discutido desde os filósofos clássicos, como Aristóteles, por exemplo. É um assunto que tem sido revisado e debatido ao longo dos séculos, como na idade média com Tomas de Aquino, bem como na contemporaneidade com Alasdair MacIntyre em um de seus livros mais conhecidos chamado “After virtue” de 1981.

Em 2004 os pesquisadores Christopher Peterson e Martin E. P. Seligman por meio de uma pesquisa histórica listam seis categorias de virtudes que constantemente emergem da literatura, as quais são: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência. Assim, os pesquisadores especulam que todas essas virtudes devem estar presentes acima dos valores limite para um indivíduo ser considerado de bom caráter (Peterson e Seligman, 2004, p.13). Neste sentido, buscam descrever a força de caráter sob essas seis virtudes, pois para eles, mensurar a virtude é algo muito abstrato e geral.

Wright e Goodstein (2007, p.932) descrevem que as forças do caráter são os ingredientes psicológicos – processos ou mecanismos – que definem as virtudes. Por exemplo, a virtude da coragem pode ser alcançada através de forças de caráter como persistência, integridade e o que eles chamam de vitalidade ou entusiasmo – aproximando a vida com entusiasmo e energia. Assim, definem o caráter da seguinte forma:

“nos definimos o caráter como aquelas qualidades habituais interpenetráveis dentro dos indivíduos, e aplicáveis a organizações que as limitam e as levam a desejar e buscar o bem pessoal e social” (Wright e Goodstein 2007, p.932).

Baseado nos trabalhos de Peterson e Seligman e de Wright e Goodstein, é possível entender que a virtude é composta por forças de caráter, assim, para a virtude Sabedoria, requer-se forças de caráter como Criatividade, Curiosidade, Mente Aberta e Amor ao Aprendizado, por exemplo. Para virtude de Temperança, forças de caráter como, Perdão e Misericórdia, Humildade e Modéstia, Prudência e Autocontrole são necessárias. A figura 1, busca sintetizar a ideia apresentada pelos pesquisadores Peterson e Seligman.

Neste sentido, os autores (Wright e Goodstein) destacam que em um contexto de disciplina moral, o caráter, mais do que a virtude pressupõe fornecer indivíduos com um barômetro moral mais específico, assim, este barômetro é fundamental para ajudar a monitorar o comportamento real, ou seja, usando o exemplo acima, a prudência e o autocontrole reforça a necessidade da temperança.

Assim, ser virtuoso requer forças de caráter. Indivíduos em ambientes de disciplina moral ajudarão a reforçar a necessidade de virtude, seja em órgãos públicos quanto em empresas privadas.

Referências:

Peterson, C., & Seligman, M. E. P. 2004. Character strengths and virtues: A handbook and classification. New York: Oxford University Press/Washington, DC: American Psychological Association

Wright, T.A., & Goodstein, J. 2007. Character is not “dead” in management research: A review of individual character and organizational-level virtue. Journal of Management, 33: 928-958.

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